Após a criação de uma faixa exclusiva para ônibus e do início da construção de uma ciclovia, a avenida Paulista ganhará na quinta-feira (30) um novo shopping com 1.557 vagas para carros.
O empreendimento deve atrair à região ao menos mil carros no horário de pico e provocar impacto no trânsito.
Localizado no terreno onde existia a mansão do industrial Francisco Matarazzo, o centro comercial surge no momento em que a gestão Fernando Haddad (PT) faz uma campanha contra o transporte individual.
O novo Plano Diretor, que definiu as diretrizes urbanísticas da capital paulista para os próximos anos, prevê limites tanto no número de vagas de garagem como na altura de prédios em toda a cidade.
A construção, planejada desde 1991 após disputas pela área, ocorreu depois um estudo de impacto de trânsito finalizado em 2010, época em que os carros podiam usar as quatro faixas da via.
O Shopping Cidade São Paulo, projetado pela CCP (Cyrela Commercial Properties), custou cerca de R$ 500 milhões e prevê, além do shopping, uma torre de escritórios –esta última sem previsão de inauguração.
O estudo de 2010 diz que o complexo deverá atrair 1.090 veículos à região da Paulista no horário de pico.
Desde 2013, a avenida perdeu uma faixa de carros para os coletivos, o que pode gerar congestionamento nas áreas de acesso ao shopping, segundo especialistas.
A inauguração também ocorrerá em meio às obras da futura ciclovia, que já causa transtornos no tráfego.
"Vão ocorrer filas nas entradas e saídas para carros, o que vai impactar no entorno", diz o engenheiro Horácio Figueira, consultor de trânsito e transportes.
Ele defende que os shoppings criem miniterminais de ônibus nas garagens para estimular o transporte coletivo.
A CCP diz que cumpriu as leis e que atendeu aos pedidos da prefeitura para amenizar impactos no trânsito. Diz também que, com o shopping, a região ganhará área verde aberta ao público.
O alvará que libera a abertura do shopping deve ser publicado no "Diário Oficial" da Cidade até quinta-feira.
Na justiça
As obras chegaram a ficar paralisadas em 2013 depois que a Promotoria de Habitação e Urbanismo entrou com uma ação civil pública contra o empreendimento.
O promotor Marcus Vinícius Monteiro dos Santos diz que não houve estudo de impacto de vizinhança, instrumento previsto no Estatuto das Cidades para manter a qualidade de vida de quem mora no entorno.
"Parece claro que o trânsito e os moradores da região serão seriamente comprometidos. Era necessário esse estudo detalhado", disse. Porém, a Justiça julgou a ação improcedente –a Procuradoria recorreu, sem resposta.
A prefeitura diz que todos os estudos necessários foram feitos e que a empresa cumpriu 14 medidas para melhorias no tráfego, incluindo o alargamento das ruas São Carlos do Pinhal (entrada de carros) e Pamplona, além de bancar a instalação de redes de semáforos.
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo