Indústrias afirmam que captam um volume menor do que o autorizado. Para consórcio local, esforço de economia do setor evita que água seja disputada entre indústria e prefeituras.
As empresas que detêm as maiores autorizações para captar água na bacia onde fica o sistema Cantareira afirmam que investem em reúso e retiram um volume menor do que poderiam.
Líder na lista, a Rhodia diz que devolve ao rio Atibaia a maioria da água utilizada no resfriamento de equipamentos e na geração de energia.
A refinaria Replan (Refinaria de Paulínia), da Petrobras, afirma que as ações de economia de água resultam no reúso de 25% do que é consumido. A empresa também utiliza a água para resfriamento de equipamentos.
A Raízen, do setor energético, diz que a autorização de captação da empresa foi concedida num cenário diferente do atual. "Praticamos uma política de uso responsável de recursos naturais, e a captação da unidade em questão é inferior à metade autorizada", afirmou a empresa.
Também na lista das que podem usar mais água, a Ajinomoto diz que tem consumo abaixo do limite máximo de captação no rio Jaguari.
"Na fábrica de Limeira, realizamos ações para otimizar o consumo de água, de modo que a nossa captação não ultrapasse 50% do permitido pela outorga", afirma.
De acordo com a Ajinomoto, 1.800 dos seus 3.000 empregados trabalham na unidade que utiliza água do rio Jaguari para resfriamento no processo industrial.
Questionada sobre o assunto, a Suzano Papel e Celulose diz que "reconhece o momento delicado em relação à estiagem e as consequentes dificuldades hídricas".
A reportagem não conseguiu localizar representantes das usinas União São Paulo e Santa Cruz.
GOVERNO
A Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado afirma em nota que analisa formas de aperfeiçoar o sistema de licenças, levando em conta que o uso das águas deve ser compartilhado entre o abastecimento humano, o setor hidrelétrico, a agricultura e a indústria.
O governo diz estudar modelos e alternativas que, "no devido momento, serão debatidos com a sociedade". Segundo a secretaria, é "precipitado" falar em "alteração específica" neste momento.
Francisco Lahóz, secretário-executivo do Consórcio das Bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, que reúne prefeituras e empresas da região, diz que as indústrias têm trabalhado para reduzir cada vez mais o volume de água consumido.
Segundo ele, o esforço faz com que não exista disputa entre indústria e abastecimento público.
Lahóz afirma, no entanto, que a crise hídrica força o meio produtivo a rediscutir outorgas que sejam seguras tanto para o abastecimento como para o crescimento industrial. "Estamos olhando essas questões na região. A minha dúvida é se os mesmos cuidados estão sendo tomados na bacia do Alto-Tietê [que inclui São Paulo] ou na do São Francisco [que abrange Minas e o Nordeste]", diz. (ARTUR RODRIGUES E FABRÍCIO LOBEL)
Matéria publicada originalmente na Folha de S. Paulo.