Sabesp negligenciou desperdício de água, afirma especialista japonês

Por FABIANO MAISONNAVE – da Folha de S. Paulo.

Por anos, a Sabesp deixou em segundo plano o combate ao desperdício de água na Grande São Paulo, o que poderia evitar a necessidade de buscar novas fontes na atual crise de abastecimento.

A avaliação, do especialista japonês Masahiro Shimomura, 61, é baseada nos seus três anos de trabalho como assessor do programa de redução de perdas de água da Sabesp em São Paulo.

De 2007 a 2009, participou do Projeto Eficaz, fruto de um acordo de cooperação entre a empresa e a Jica (Agência de Cooperação Internacional do Japão, na sigla em inglês).

"O desafio era a sensibilização sobre o tema. A direção da Sabesp não pensava seriamente sobre perda de água", disse, em entrevista à Folha em São Paulo, onde foi um dos palestrantes de um seminário sobre gestão de água promovido pelo Ministério do Meio Ambiente.

No período em que assessorou a Sabesp, ele testemunhou alguns registros de vazamento esperarem até dois anos pelo conserto. Em média, afirma, o prazo era de uma semana. Em Tóquio, referência mundial em gestão de água, o reparo costuma ser feito no mesmo dia.

Para ele, a Sabesp se concentrava apenas nas reclamações de falta de água dos consumidores, sem relacioná-la ao problema do desperdício.

Na região metropolitana de São Paulo, a perda de água tratada é de cerca de 17,4%, segundo a Sabesp. Caso se levem em conta furtos, a perda fica em torno de 30%. Em Tóquio, esse índice é de 2%.

"Se em São Paulo essa taxa estivesse em 5%, 10%, não haveria necessidade de desenvolver novas fontes de água, de fazer um sistema maior. E a redução de água não é cara", argumenta Shimomura.

Em nota, a Sabesp afirma que sempre considerou a redução um problema prioritário. A empresa afirma que criou um programa específico, com investimentos de R$ 6 bilhões entre 2009 e 2020. Desse total, a Jica concedeu empréstimo de R$ 847 milhões, em valores atualizados.

Ainda segundo a Sabesp, se as perdas na região metropolitana estivessem em até 10%, a economia seria de 5 mil litros por segundo, "o que seria insuficiente para compensar a redução de disponibilidade de água na região, devido à escassez hídrica, que levou à redução da produção de 69,1 mil litros por segundo (média de 2013) para 51,3 mil litros por segundo (média de 2015)".

Matéria publicada originalmente na Folha de S. Paulo.

 

Compartilhe este artigo