Por Fabrício Lobel
O governo paulista espera atravessar o atual período seco, que vai até outubro, sem a necessidade de "raspar" ainda mais o fundo das represas do sistema Cantareira, o maior da Grande São Paulo e em situação mais crítica.
Segundo o planejamento da Sabesp, a meta é reduzir gradativamente a retirada diária de água do manancial e, com isso, não utilizar a segunda cota do chamado volume morto, aquela porção de água retirada por bombas do fundo dos reservatórios.
Atualmente, o sistema opera com a primeira cota do volume morto, com cerca de 180 bilhões de litros de água.
Para retornar ao seu nível normal, o que só tem chance de ocorrer no próximo verão, o Cantareira precisa atingir 22,7% da capacidade. Após se manter estável por três dias consecutivos, o nível do Cantareira recuou 0,1 ponto percentual e opera com 15,2% nesta quarta-feira (6).
Antes da crise, a Sabesp retirava 32 mil litros de água por segundo do Cantareira, e o volume era usado para abastecer 9 milhões de pessoas.
Com o agravamento da seca e da situação das represas, a empresa teve que reduzir a captação –a quantidade de água retirada das represas para entregar à população.
Atualmente, a Sabesp capta cerca de 15 mil litros por segundo do Cantareira, abastecendo 5,3 milhões de pessoas.
Essa diferença de quase 4 milhões de pessoas, antes uma clientela exclusiva do Cantareira, passou a ser atendida com água de outros mananciais, em especial o Guarapiranga (zona sul) e o Alto Tietê (extremo leste).
A ideia é que a captação no maior sistema continue caindo nos próximos meses, até chegar a 10 mil litros de água por segundo. Nesse cenário, o Cantareira passaria a abastecer 5 milhões de pessoas.
Um efeito colateral dessas manobras de "socorro" de um sistema para o outro é que, quanto mais distante ficar a área atendida dos reservatórios, menor é a pressão com que a água é empurrada.
O resultado disso serão novas áreas da região metropolitana com torneiras secas durante a maior parte do dia.
Esse tipo de racionamento já ocorre desde o ano passado, em especial em bairros altos da região metropolitana.
Há casos de residências que ficam 20 horas por dia sem abastecimento de água.
Os técnicos da Sabesp acreditam que, reduzindo a captação e a população atendida pelo Cantareira, seria possível ao menos poupar a segunda cota do volume morto –108 bilhões de litros usados entre novembro do ano passado e fevereiro deste ano.
Para que o plano dê certo, a Sabesp terá que entregar uma série de obras. A maior delas, a ligação de 4.000 litros de água por segundo entre os sistemas Rio Grande e o Alto Tietê, já está atrasada.
Prometida pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) para este mês, foi reprogramada para setembro, já no final do período seco do ano.
Essa obra tem como principal objetivo manter cheio o reservatório do Alto Tietê, para que o excedente possa ser empurrado para áreas do Cantareira e evitar a adoção de um rodízio em toda a região.
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo