Gestão Haddad admite que não vai construir creches prometidas

Por Catia Seabra e Fábio Takahashi

A gestão Fernando Haddad (PT) já admite que não conseguirá cumprir a meta de construção de 243 creches na cidade de São Paulo até 2016, no final do atual mandato.

Contabilização interna da própria prefeitura prevê que esse número será 40% menor —e deverá se limitar a 147.

A administração petista alega falta de dinheiro para viabilizar a promessa. Ela afirma, agora, que tentará compensar a menor quantidade de obras públicas por meio de ampliação de parcerias com entidades privadas.

A expansão da rede de creches foi, na disputa eleitoral, uma das principais bandeiras de Haddad, que ganhou notoriedade nacional à frente do Ministério de Educação.

A promessa de construir 243 creches consta do plano de metas da gestão petista.

A Secretaria da Educação, porém, diz que só tem dinheiro para construir 100 creches, além das 47 já entregues ou em fase final.

A estimativa foi dada à Câmara no fim de abril e em nota à Folha nesta semana.

Fila

O secretário Gabriel Chalita, que assumiu a pasta da Educação neste ano, diz que aposta numa expansão de convênios privados para tentar compensar a entrega de menos creches públicas.

Nesse modelo, a prefeitura paga por criança atendida. Educadores da rede afirmam que há menos garantia de qualidade nesse formato.

"Mais importante que construir, ainda que estejamos construindo muito, é não deixar crianças fora da escola", disse Chalita à Folha.

No último balanço oficial, havia 106 mil crianças na fila por creches na capital paulista. Para zerá-la só com unidades municipais, seria preciso em torno de 500 creches.

Com as cem novas que a gestão Haddad diz poder construir, será possível atender cerca de 20 mil crianças.

A intenção da prefeitura é que as demais sejam matriculadas na rede conveniada.

Ao assumir a pasta, Chalita citou a possibilidade de negociar com empresas para que elas pudessem construir creches e doá-las à cidade.

As negociações, porém, estão lentas. No evento de apresentação do projeto, empresários se mostraram reticentes por não haver garantia de retorno às instituições -como abatimento de tributos.

O vereador Reis (PT), presidente da comissão de Educação da Câmara, diz que a expectativa é ter ao menos 20 creches em parceria com uma rede de supermercados.

A prefeitura enfrenta dificuldades orçamentárias, devido à queda na arrecadação, fruto do desaquecimento econômico do país. Diz que também não conseguiu contar com verba federal e estadual esperada para as creches.

A legislação impõe que atender alunos do ensino infantil (creche e pré-escola) é responsabilidade das prefeituras. Estados e a União podem apoiar os projetos.

Estrutura

A ampliação da rede por convênios já foi usada pelas gestões Marta Suplicy (então no PT), José Serra (PSDB) e Gilberto Kassab (PSD).

De um lado, entidades privadas têm mais agilidade para encontrar espaços e contratar pessoal. De outro, muitas têm qualidade questionada.

O Sinesp (sindicato dos diretores da rede municipal) afirma que "muitas não têm estrutura e formação adequada dos educadores".

Em 2009, fiscalização do Tribunal de Contas do Município apontou que a rede conveniada tinha qualidade inferior à da rede direta.

Hoje, a cidade conta com 1.000 creches conveniadas e 360 unidades diretas. 

Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo

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