Por Bruno Ribeiro
Novo trecho ligará a Praça Roosevelt à zona sul; a restrição deve ser implementada assim que obras na Paulista forem concluídas.
A gestão Fernando Haddad (PT) vai estender a rede cicloviária da cidade por toda a Rua da Consolação, da Praça Roosevelt à Avenida Paulista, no centro, e da Paulista à Rua Estados Unidos, nos Jardins, zona sul. O cronograma de instalação da via não está fechado, mas a implementação deve começar tão logo fique pronta a obra em curso na Paulista.
O serviço não inclui intervenções urbanísticas, como estão sendo feitas na Paulista. Serão vias segregadas comuns, com sinalização de solo indicando o uso proibido para automóveis. Antes mesmo de sair do papel, porém, já provoca polêmica.
“A surpresa é sempre desagradável. A informação não chega por completo, vem sempre atravessada. A ciclovia pode ter grande valia, mas precisa ser discutida com a sociedade”, afirma a advogada Célia Marcondes, representante da Sociedade dos Amigos, Moradores e Empreendedores do Bairro Cerqueira César (Samorcc). “É um descontentamento total. Tudo o que é imposto é ruim”, lamenta Célia.
No trecho sentido centro, onde a Consolação tem pista dupla, o projeto ainda está em fase mais embrionária. Foi definido que a via sairá da Paulista e chegará à Rua Rego Freitas, que também tem sinalização para ciclovia.
Com esse trecho, mais as obras em andamento na Avenida São João, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) prevê que o ciclista seja capaz de circular da Avenida Paulista até o Terminal Rodoviário da Barra Funda, na zona oeste, sem deixar as faixas exclusivas, consideradas mais seguras.
“Esse projeto está em estudo com a área operacional. Será decidido se haverá uma faixa unidirecional de cada lado ou não, e onde ela vai estar, porque ali tem uma via exclusiva para ônibus”, explica o arquiteto Ronaldo Tonobohn, superintendente de Planejamento da CET, responsável pelo projeto.
Jardins
O projeto no sentido Jardins, que foi definido no ano passado, está mais adiantado. “Para o lado dos Jardins, da Alameda Jaú até a Rua Honduras, já temos a definição pela Consolação. O que estamos estudando ainda é o trecho da Jaú até a Paulista. Estudamos se a conexão (com a Avenida Paulista) será por ali. Há uma grande tendência de que seja pela própria Consolação, mas ainda estudamos se será por um outro eixo”, explica o arquiteto.
No caso do lado dos Jardins, a obra prevê a retirada da faixa hoje usada para estacionamento.
O secretário municipal de Transporte, Jilmar Tatto, pretende financiar a nova via com recursos obtidos de polos geradores de tráfego. É uma verba arrecadada pela Prefeitura de empreendimentos que atraem muitos carros. “Mas ainda estamos negociando, sem definição”, disse Tatto. Se não conseguir a verba, a obra será custeada pelo Tesouro municipal, como as demais rotas.
A malha cicloviária de São Paulo tem 326,6 quilômetros – 200 km foram feitos na gestão Haddad.
Visão técnica
O engenheiro civil Creso de Franco Peixoto, especialista em trânsito, aponta entraves técnicos à instalação da ciclovia da Rua da Consolação. “A Consolação é um ‘cluster’, uma rua que concentra um grande número de comércios do mesmo tipo (iluminação), e se caracteriza por ser o destino final de muitas viagens. Há muitas intervenções na via”, afirma Peixoto, professor da Fundação Educacional Inaciana (FEI). Essa característica, explica, faz com que muitos carros cruzem a futura faixa exclusiva. “Dá para fazer, mas há uma série de cuidados.”
Outra questão levantada por ele é com relação à inclinação da via. “É até uma questão social. A pessoa com bicicleta mais barata e pesada não consegue vencer a rampa.”
O consultor de mobilidade e ciclista Daniel Guth concorda com a visão de Peixoto, mas faz outras observações. “O ciclista não é obrigado a usar a ciclovia. Ele pode usar outras vias. Mesmo com a da Consolação, gosto de andar pela Rua Augusta.”
Matéria originalmente publicada no jornal O Estado de S. Paulo