Análises laboratoriais de dez amostras coletadas em nascentes da capital apontam risco do consumo para a saúde; Além da ingestão, uso para cozinha e banho não é recomendável e pode causar problemas digestivos e intestinais.
Por Fabrício Lobel
Segundo o mecânico Hélio Sales, 67, a água que vem da Sabesp falta todo dia, a partir das 16h, e só retorna de manhã. O que não para nunca é a água que jorra de uma bica de seu quintal e que abastece a sua caixa-d'água, no Sumaré (zona oeste de SP).
Ele, que usa essa água para beber, cozinhar e tomar banho, tenta garantir a qualidade de sua "fonte particular". "Tem muita gente que fala que essa água não é boa, mas eu não acredito. É fresca."
Não é o que apontam testes de laboratório recentes sobre a qualidade de dez bicas e nascentes de São Paulo.
Todas foram consideradas impróprias para o consumo humano –ou seja, a água desses locais não deve ser bebida nem usada para cozinhar e tomar banho.
Em sete das análises, incluindo a próxima da casa de Hélio, o número de coliformes totais (tipo de bactérias) ultrapassou 2.400 por miligrama. Para a água ser considerada adequada e não causar problemas como gastroenterites e de diarreias, o índice deveria ser zero.
Na nascente do córrego Ferrão, no pico do Jaraguá, na zona norte, o número de bactérias Escherichia coli também está além do ideal. Por lá, a população também usa a água direto da fonte.
Segundo Roberta Basso, supervisora de laboratório da Odebrecht Ambiental, empresa responsável pelas análises, apesar de as águas não serem consideradas potáveis, é possível que algumas pessoas não passem mal após consumi-las, já que desenvolveram anticorpos.
Os testes são uma iniciativa do projeto NascenteSP, que mapeia as nascentes na cidade. O objetivo é informar a população sobre as formas possíveis de aproveitamento, como irrigação, limpeza etc.
No entorno da praça Homero Silva, no Sumaré, um grupo de moradores se organizou para limpar a área da nascente do córrego Água Preta.
Criaram até um lago, hoje cheio de peixes. A água é constantemente usada para irrigar hortas comunitárias.
Segundo a diretora de arte Andrea Pesek, 50, com a crise da água aumentou o número de pessoas que recorrem à praça. "Desde moradores de rua que usam [indevidamente] a água para tomar banho a donos dos bares, para dar descargas", diz.
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo