Dos dez equipamentos previstos há 4 anos em polo institucional ao redor do estádio do Corinthians, apenas dois foram concluídos.
Por Fabio Leite
Naquele 12 de junho, torcedores paulistanos pegavam pela primeira vez um trem do Metrô com destino a Itaquera. Chefes de Estado e até o secretário-geral da ONU ocupavam as tribunas do recém-inaugurado estádio do Corinthians. Ao vivo, 62.103 pessoas – pela TV foram 3,2 bilhões – assistiram ao evento que seria o divisor de águas da zona leste de São Paulo, onde vivem cerca de 40% dos paulistanos.
Um ano após a abertura da Copa em Itaquera, porém, o legado anunciado pelas autoridades e tão sonhado pelos moradores da região ainda se perde no vazio dos terrenos ociosos. Dos dez novos equipamentos previstos no Polo Institucional de Itaquera, além do estádio corintiano, apenas dois foram concluídos: as unidades da Faculdade de Tecnologia (Fatec) e Escola Técnica (Etec), do governo do Estado, e o Parque Linear do Rio Verde, da Prefeitura.
O polo foi anunciado pela Prefeitura em 2011, ano em que o estádio do Corinthians foi confirmado pela Fifa como sede da abertura da Copa. O local, segundo a administração, seria “o centro de uma cidade que se formará dentro da própria São Paulo”. De acordo com estudo contratado pela gestão Gilberto Kassab (PSD) naquele ano, a nova arena “tem potencial para acelerar as iniciativas previstas para a zona leste e criar novo vetor de desenvolvimento” em uma região superpopulosa, mas carente de equipamentos públicos e ofertas de emprego.
Dos oito projetos que não estão prontos, apenas um está em obras: o novo terminal de ônibus de Itaquera, de R$ 424 milhões, que está sendo construído na frente da estação do Metrô, com previsão de entrega para 2016. Já o local onde estava previsto um Batalhão da PM dará lugar a uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA), cujas obras começaram em abril e devem ser concluídas em um ano.
Na área onde estavam previstos uma unidade do Senai e um Parque Tecnológico, na frente da Fatec, há apenas uma grande lona montada pelo Circo Moscou. O terreno onde foi anunciada a construção de um Fórum de Justiça, ao lado do estádio, é ocupado por um grupo de aeromodelismo da região. Também não saíram do papel o centro de convenções e eventos e o edifício de salas comerciais, entre o estádio e a Fatec.
Melhorias
Os moradores afirmam que, até agora, o único legado físico foram as obras viárias feitas antes da Copa para facilitar a ida ao estádio, na Radial Leste, além da valorização imobiliária com a arena. “A obra trouxe mais carros para a região. No horário de pico, fica tudo congestionado. A única benfeitoria mesmo foi a valorização dos imóveis”, conta o auxiliar de logística Leonardo Tavares, de 26 anos.
Mas não para quem vive de aluguel, como o eletricista Élton dos Santos Pereira, de 29 anos, vizinho do estádio. “Onde eu moro o aluguel dobrou, de R$ 400 para R$ 800, em menos de um ano. Se você considerar que os preços no mercado também aumentaram, a vida ficou mais difícil para a gente aqui.”
Incentivos
Foi com o discurso de que grandes eventos esportivos induzem o desenvolvimento de uma região que a gestão Kassab concedeu R$ 420 milhões em incentivos fiscais para a construção da arena corintiana. Em fevereiro de 2014, o prefeito Fernando Haddad (PT) ampliou o escopo e lançou programa que dá desconto em impostos municipais, como IPTU e ISS, para novas empresas se estabelecerem na zona leste, gerando emprego e reduzindo os deslocamentos para o centro.
Até agora, segundo a Prefeitura, apenas cinco empresas se cadastraram no programa, com previsão de abrir 6 mil postos de trabalho. Metade dessas vagas deve ser gerada pela empresa Flex Contact Center, de relacionamento com cliente, que abriu sua unidade em São Mateus no mês passado e ainda trabalha com 50 funcionários. A expectativa é chegar a 300 no mês que vem. Outras 25 empresas estão buscando terrenos na região, entre elas um shopping e uma universidade. A Prefeitura afirma que o programa é de médio e longo prazo e deve gerar mais de 50 mil empregos.
Quanto ao Polo de Itaquera, a gestão Haddad explica que se trata de parceria com o governo estadual prevista antes da escolha da sede da Copa. “Portanto, não podemos vincular as metas do projeto para a implementação do polo com as obras para a Copa.” A Prefeitura informou que, no que compete a ela, a negociação para a instalação do Senai está em curso com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). O Parque Tecnológico também depende dos governos federal e estadual e da iniciativa privada, e está previsto para 2016.
Matéria originalmente publicada no jornal O Estado de S. Paulo