Melhorar um país não é tarefa fácil, que podemos simplesmente delegar. Aprender a fazer política é parte fundamental da atividade dos cidadãos em uma democracia.
Dizem que a desgraça de quem não gosta de política é ser governado por quem gosta. Essa frase aponta as consequências da falta de entendimento do nosso papel e responsabilidade na mudança social e política do país. Somos espectadores quando deveríamos ser protagonistas na consolidação de nossa democracia.
Na sua gênese, o termo “política” significa aquilo que diz respeito aos cidadãos. Presumimos então que política deveria interessar a todos. Contudo, a simples menção a essa mágica palavra já traz ojeriza e olhares desaprovadores.
A sociedade civil já tem alguma experiência na política, mesmo sem se dar conta. As inúmeras ONGs, movimentos sociais, ativistas, coletivos são exemplos de pessoas que se organizaram para tentar interferir nos rumos da Nação. Esse trabalho chama-se advocacy ou ação política.
Advocacy ou ação política é a defesa de uma ideia, causa ou posição por meio de sensibilização, ações legislativas, mobilização, articulação e ações de comunicação com a finalidade de transformação social em prol do bem comum. Vai muito além do lobby junto ao governo e envolve ações para conscientizar setores, campanhas de comunicação etc.
A ação junto ao governo, no entanto, é parte fundamental. É o Estado que possui a escala e impacto para resolver problemas como melhoria da saúde, educação, mecanismos de combate à desigualdade tributária, entre tantos outros. Sem falar nos recursos orçamentários para investimento. E aí que reside a grande confusão.
Tentar influenciar o governo não quer dizer pagar propina para congressistas. Não quer dizer receber recursos públicos ou benesses. Não quer dizer ser cooptado por um partido. Obviamente que essas práticas existem, mas a prática ética e legítima também.
Para construir uma democracia não é preciso apoiar partidos ou pessoas (apesar de que isso também é legítimo). Sentar à mesa com quem toca a política é fazer ação política na prática. Não basta somente criticar e, quando chamado para emitir opinião ou apresentar propostas, simplesmente se omitir. Omissão é uma ação política em si e significa apoio ao status quo. Aí o resultado final provavelmente não será o objetivo inicial.
Em um trabalho consistente de ação política, é preciso ter um plano, propostas e continuidade. É um trabalho por compromissos e resultados concretos e não se faz isso sem dialogar. É preciso fortalecer o espírito democrático e não o fla-flu. Crítica vazia ou apoio incondicional são desserviços à democracia.
Infelizmente, não há atalho para conseguirmos o país que sonhamos. É preciso colocar a mão na massa ou apoiar e saber apoiar aqueles que colocam. E qualquer pessoa pode organizar grupos de discussão, criar uma associação, educar-se politicamente, educar os filhos que não aprendem na escola o que faz um congressista ou quais os direitos e deveres dos cidadãos. E isso passa por entender que democracia dá trabalho, é preciso vigiar, negociar, participar sempre porque reclamar é legítimo, mas só isso não transforma a realidade.
Ao invés de espectadores, temos que ser os políticos.
*Daniela Castro, diretora executiva da Atletas pelo Brasil, e Oded Grajew, da Rede Nossa São Paulo.