Companhia anunciou decisão às empresas contratadas e informou que está remanejando orçamento para priorizar segurança hídrica.
Por Fabio Leite
Após anunciar corte de investimento no setor por causa da crise hídrica, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) avisou agora empreiteiras e fornecedores que vai suspender as obras na rede de esgoto por 120 dias. Em nota, a estatal informou que “remaneja seu orçamento para dar prioridade às obras que garantam a segurança hídrica da região metropolitana”.
A medida foi criticada pela Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas (Apeop), que reúne as maiores construtoras do País. A entidade encaminhou no dia 12 deste mês uma carta ao presidente da Sabesp, Jerson Kelman, afirmando que entende as dificuldades provocadas à companhia pela crise e pela retração econômica, mas alerta que a decisão trará “consequências danosas para todos os envolvidos”.
“Não tem lógica nenhuma. Perde a sociedade, porque não terá serviços necessários de coleta e tratamento de esgoto, o setor da construção, que será ainda mais afetado pela crise, e a própria Sabesp, que terá de arcar com os custos de paralisação e retomada das obras, além dos mananciais continuarem sendo poluídos”, disse Marco Botter, vice-presidente de Saneamento e Sustentabilidade da associação.
Questionada pela reportagem, a Sabesp não informou quais obras serão paralisadas. O deputado estadual Ramalho da Construção (PSDB), que preside o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de São Paulo, teme que a medida desencadeie mais demissões no setor. “Estamos preocupados porque se suspende uma obra por 120 dias, o que você faz com o trabalhador? Além disso, temos uma carência muito grande de esgoto no Estado”, disse. Segundo a Sabesp, 15% do esgoto gerado ainda não é coletado e 23% não são tratados.
Além da suspensão temporária nos canteiros já implementados, a companhia também está adiando o início de outras importantes ações do projeto de despoluição do Rio Tietê, em curso há mais de 20 anos. É o caso das obras do Coletor-Tronco Anhangabaú, que atravessa o centro da capital até chegar ao Rio Tamanduateí, um dos afluentes do Tietê. O contrato de R$ 358 milhões foi assinado em agosto do ano passado, mas até agora a Sabesp não autorizou o consórcio vencedor a iniciar a obra. Segundo a estatal, ela “deverá ter início em 2015”.
Em março, após divulgar queda de R$ 1 bilhão no lucro em 2014, a companhia anunciou que reduziria em 55% o investimento em coleta e tratamento de esgoto. Segundo o diretor econômico-financeiro da estatal, Rui Affonso, o objetivo é “antecipar os investimentos em água concentrados nos próximos dois anos para aumentar a segurança hídrica da região metropolitana”.
Entre as obras mais importantes previstas com recursos da Sabesp estão a que levará água da Represa Billings para o Alto Tietê, cuja conclusão foi adiada de maio para setembro, e a transposição da Bacia do Rio Paraíba do Sul para o Cantareira, prevista para ser concluída em 2017 após ter sido anunciada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) para este ano.
Em maio, após a agência reguladora do setor conceder um reajuste na tarifa de água e esgoto (15,2%) abaixo do índice pleiteado pela Sabesp (22,7%), a companhia anunciou que reduziria ainda mais os investimentos planejados. “Não é possível a Sabesp manter o nível de investimento projetado se há uma frustração de receita em relação à revisão tarifária e se as condições macroeconômicas todas pioraram”, disse Affonso.
Em nota, a Sabesp afirmou que “não abandonou obras” e que outras ações “estão sendo aceleradas”, como as intervenções para despoluição da Billings, que terão financiamento do Banco Mundial. Até 2019, a estatal diz que vai investir R$ 8 bilhões no segmento.
Matéria originalmente publicada no jornal O Estado de S. Paulo