Haddad faz acordo com governo federal para mudança da Ceagesp

Serão realizados estudos de viabilidade técnica para transferência da companhia da Vila Leopoldina para área próxima ao Rodoanel.

Por Victor Martins

O governo federal e a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) devem começar, nos próximos dias, estudos de viabilidade técnica para a mudança do entreposto da Vila Leopoldina para uma área no Rodoanel. Conforme antecipou o Estado em março, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), assinou nesta terça-feira, 23, um acordo com o Ministério da Agricultura e com o Ministério do Planejamento para dar os primeiros passos para a realização dessa mudança. Pelo menos dois grupos econômicos, segundo o prefeito Fernando Haddad, estão interessados em fazer as obras necessárias. 

Esse acordo e o estudo que sairá dele devem ajudar na aprovação da nova lei de zoneamento de São Paulo. Os vereadores precisam aprovar uma reclassificação do status da região onde a Ceagesp está atualmente instalada, de Zona Industrial (ZPI) para Zona Especial (ZOE) – o Aeroporto de Congonhas, o Sambódromo e os câmpus da Universidade de São Paulo são ZOEs. Essa alteração é necessária para que o local possa ser usado para construir casas e comércio, além de um parque. "A Ceagesp é o obstáculo que impede o retorno do desenvolvimento ao centro da cidade. O Rodoanel é uma área importante e ela não adianta se a Ceagesp não migrar. A mudança da Ceagesp será o maior projeto urbanístico de SP", disse o prefeito durante a assinatura do acordo no Ministério da Agricultura, em Brasília.

O prefeito explicou que cerca de 14 mil veículos trafegam na atual área da Ceagesp, alcançando em algumas ocasiões 27 mil. A ministra da Agricultura, Kátia Abreu, afirmou que a Ceagesp está "bastante estrangulada" e lembrou que o terreno do entreposto é bastante valioso. A comercialização na área, no entanto, se tornou complexa em função da movimentação de carros. "O importante é que o novo satisfaça a parte de produção e distribuição de alimentos. Nós encontraremos locais atrativos dentro do que a Prefeitura mostrar como disponível", explicou a ministra que disse acreditar que as obras, depois de licitadas, durem no máximo dois anos. 

O projeto não deve enfrentar grandes obstáculos na Câmara em função do apelo popular. A troca de localidade tem entre seus objetivos desafogar o tráfego, principalmente pela redução do movimento de caminhões nas marginais do Tietê e do Pinheiros; além de construir casas populares onde funciona a Companhia atualmente – área equivalente ao tamanho de 70 campos de futebol. "Esse é o momento de Câmara Municipal ajudar a Ceagesp a encontrar o seu novo local", observou Haddad. A lei deve ser aprovada até o fim do ano. 

Esse estudo também ajudará a convencer a iniciativa privada a participar do projeto de construção da nova Ceagesp. O modelo da operação ainda não está fechado, mas é provável que empresas e construtoras que toquem o projeto obtenham autorização para explorar o entreposto em parceria com o setor público. A área a ser escolhida para abrigar a companhia tem de favorecer a logística de abastecimento. "Nós queremos que ali seja um polo gerador de emprego e renda combinado com moradia de padrões diferentes. Ali na vizinhança tem áreas pobres que precisam ser absorvidas", ponderou o prefeito. "Essa talvez seja a última fronteira de expansão da cidade", afirmou. 

Desestatização

Em março deste ano, o governo deu mais um passo no sentido de facilitar essa transição e excluiu a Ceagesp do Programa Nacional de Desestatização (PND). A companhia estava nessa lista desde 1997, quando a empresa foi transferida para a União.

Com a saída do programa de desestatização, a Ceagesp poderá receber recursos públicos, negociar ativos ou firmar um contrato de concessão de uso com a iniciativa privada. Desde 2013 a companhia esperava uma resposta da presidente Dilma Rousseff sobre a desestatização, o que só ocorreu em 19 de março deste ano.

O entreposto é a principal central de abastecimento do País e movimenta por dia cerca de 250 mil toneladas de frutas, legumes, verduras, pescados e flores, entre outros produtos importantes para o abastecimento de feiras e mercados. Ele é considerado ainda o maior da América Latina e o terceiro centro de comercialização atacadista de perecíveis do mundo, atrás apenas de Paris e Nova York. 

Matéria originalmente publicada no jornal O Estado de S. Paulo

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