Lixo: Em vez de reduzir, país gera mais resíduos e cidades seguem usando lixões

Por Mara Gama – colunista do Uol

Na contramão do bom senso e da sustentabilidade, a produção de lixo residencial urbano aumentou 29% no Brasil nos últimos dez anos. Só em 2014, foram geradas 78,6 milhões de toneladas de resíduos, um crescimento de 2,9% em relação a 2013.

Por dia, cada habitante gera 1,062 quilo de resíduos, em média. Em Brasília, onde continua funcionando o maior depósito a céu aberto da América Latina, o Lixão da Estrutural, o índice é de mais de 1,5 quilo por pessoa. E cerca de 10% dos materiais sem serventia gerados na cidades brasileiras não são sequer coletados.

Apesar do aumento da geração de lixo, a quantidade de resíduos que tem destinação final adequada não se alterou significativamente desde que foi aprovada a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a PNRS, em 2010, que previa a erradicação dos lixões para agosto de 2014.

Em 2010, 57,6% do lixo era destinado corretamente para aterros sanitários. Depois de quatro anos, o número subiu para 58,4%. Ainda são 3.334 os municípios brasileiros que usam lixões e aterros controlados. Essas cidades colocaram, em 2014, cerca de 29 milhões de toneladas de lixo nesses locais.

A deposição fora dos aterros sanitários preparados para este fim resulta na disseminação de pragas urbanas, doenças para pessoas e animais, na contaminação dos solos, dos cursos d'água e dos rios subterrâneos, expandindo o problema de forma colossal, ainda mais em tempos de crise da água.

Os dados constam do último levantamento anual realizado pela Abrelpe, Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, e divulgado no último dia 28, em São Paulo. A pesquisa foi feita em 400 municípios, onde residem 91,7 milhões de pessoas, quase metade da população do país (200 milhões).

Segundo a entidade, a evolução da gestão de resíduos tem sido muito lenta no país, "Mais de 78 milhões de brasileiros (38,5% da população) não têm acesso a serviços de tratamento de resíduos e mais de 20 milhões sequer contam com a coleta regular de lixo", diz Carlos Silva Filho, presidente da Abrelpe.

Silva aponta também que os recursos aplicados em serviços de gestão de limpeza no país não acompanharam o crescimento do lixo gerado. O valor médio aplicado pelas administrações públicas foi de R$ 9,98 por habitante por mês em 2014 e era de R$ 9,95 por habitante por mês em 2010. "Considerando a inflação do período, o montante de recursos proporcionalmente caiu no período avaliado", diz.

Para quem quer um fio de esperança, o estudo da Abrelpe mostra que houve um pequeno aumento no número de cidades brasileiras que têm alguma iniciativa de coleta seletiva: em 2010 eram 57,6% e hoje são 64,8%. Vamos em frente.

Artigo publicado originalmente no portal Uol.
 

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