Por Fabrício Lobel
Nos dez primeiros dias deste mês de agosto, entraram apenas 6.600 litros de água por segundo no maior sistema de represas da Grande São Paulo, o Cantareira.
Esse volume representa pouco mais de um quarto da média histórica para este mês, de 24 mil litros por segundo.
A entrada de água nos reservatórios, tanto pelos rios como pelas chuvas, é o principal indicador da "saúde" de uma represa e indica um futuro preocupante, já que a temporada seca só deve acabar no mês de outubro –em 2014, as chuvas eram esperadas para outubro, mas só vieram em fevereiro deste ano.
Com reservatórios em situação crítica, a Grande São Paulo está há mais de um ano sob racionamento (entrega controlada de água), o que atinge principalmente bairros altos e das periferias.
Algumas residências chegam a ficar 20 horas do dia com as torneiras secas. A Sabesp, empresa de água do Estado, evita o termo "racionamento" e se refere à manobra como redução de pressão nos encanamentos da Grande SP.
A medida também reduz as perdas de água nas inúmeras falhas das tubulações da empresa, por onde se perde cerca de 19% da água tratada.
Rodízio
Apesar do quadro grave, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o comando da Sabesp descartam um rodízio (corte do fornecimento de água) ao menos neste ano.
O problema é que a seca atual começa a minar o estoque para o ano que vem.
Isso porque a Sabesp, para atender –mesmo que a conta gotas– 5 milhões de moradores na região do Cantareira, precisa retirar ao menos 10 mil litros de água por segundo a cada dia.
É aí que a conta não fecha, já que a entrada diária tem ficado próxima dos 4.000 litros por segundo. Ou seja, com gasto maior do que a entrada de água, o volume das represas passa a cair.
O nível do Cantareira não sobe desde o dia 5 de junho. Só neste mês, o sistema já perdeu 9,4 bilhões de litros.
Nesta segunda-feira (10), iniciou o dia com 13,7% de sua capacidade –nessa mesma data do ano passado, o manancial estava com 19,1%.
O cenário do Cantareira já é tão preocupante que rios de sua bacia entraram em nível de alerta.
Apesar disso, a Sabesp não deverá reduzir o volume de água retirado do sistema até o final deste mês. Pelo contrário, a empresa pediu autorização para a ANA (Agência Nacional de Águas) e para o DAEE (Departamento de Águas e Esgoto do Estado de São Paulo) para aumentar a retirada das represas.
Vazão dos Rios
Tudo isso para que o Cantareira possa socorrer o sistema Alto Tietê, o segundo maior da região metropolitana e que tem perdido água muito rapidamente.
Localizado no extremo leste da Grande São Paulo, o Alto Tietê tem sido usado para abastecer moradores antes atendidos pelo Cantareira –que, com essa manobra, reduziu sua "clientela" de 9 milhões de pessoas para 5 milhões ao longo da crise.
O Alto Tietê deve ser socorrido a partir de setembro ou outubro, se cumprida a promessa do governo de entregar a principal obra contra a crise, a ligação por meio de tubulações entre o sistema Rio Grande (cheio) e o crítico Alto Tietê.
A obra, inicialmente anunciada para maio, está 75% concluída, segundo a Sabesp.
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo