Apesar de queda nos acidentes, número de mortes em batidas e atropelamentos cresceu 8% na capital em 2014. Índice vai na contramão do restante do país, que teve menos mortes; prefeitura atribui casos à alta velocidade
Por ANDRÉ MONTEIRO – Folha de S. Paulo
Os acidentes de trânsito estão ficando mais graves na cidade de São Paulo.
É o que apontam dados da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) incluídos em um novo relatório sobre a segurança no trânsito.
Em 2014, enquanto o número de acidentes caiu 8% em relação ao ano anterior, o número de mortes foi na direção oposta e subiu 8%.
Ou seja, mesmo com menos acidentes, mais pessoas perderam a vida nas ruas e avenidas da capital.
A equipe técnica da gestão Fernando Haddad (PT) afirma que esse aumento da letalidade está relacionado com a velocidade dos veículos e foi um dos fatores que embasou a polêmica decisão de reduzir os limites nas marginais Pinheiros e Tietê, no mês passado.
Segundo o relatório, ocorreram 23.547 acidentes de trânsito na cidade no ano passado –média de 65 por dia. Em 5% deles, ao menos uma pessoa morreu.
Em 2013, esse índice de acidentes com mortes foi de 4%.
O trabalho feito pela CET só contabiliza os acidentes com vítimas –mortas ou feridas– registrados em boletins de ocorrência na polícia.
A situação da capital vai na contramão do restante do país. Segundo os dados mais recentes do Ministério da Saúde, em 2013 o número de feridos em acidentes cresceu 7% sobre o ano anterior, mas as mortes caíram 6%.
MOTIVOS
O relatório da CET não cita a questão da velocidade, mas aponta outros fatores que influenciaram o aumento da gravidade dos acidentes.
Entre eles, a maior participação de veículos pesados em atropelamentos e batidas.
O relatório afirma que "os ônibus se envolvem muito nos atropelamentos fatais e os caminhões nas colisões com motocicletas que provocam mortes".
Para José Almeida Sobrinho, do Instituto Brasileiro de Ciências de Trânsito, o aumento da gravidade é puxado por esses acidentes. "Acidente com moto é acidente com vítima, não tem como escapar. Com pedestres também, é quase certeza que o acidente terá gravidade", diz.
Ele afirma que, nesse ponto, a política da gestão Haddad contribui. "Com menor velocidade, dá mais tempo de reagir: ou diminui a gravidade ou evita o acidente."
Segundo os dados do relatório, as motos estão presentes em 69% das batidas com mortes. E os pedestres são as maiores vítimas de acidentes, representando 44% do total.
Tadeu Leite Duarte, diretor de planejamento da CET, afirma que a redução de acidentes mostra que medidas implantadas desde o início da gestão Haddad aumentaram a segurança. Ele cita, entre outras, o aumento da fiscalização pelos radares.
Sobre a maior gravidade dos acidentes, diz que pode ser apenas uma "oscilação sazonal", mas que alguns dos casos estão associados provavelmente a "questões comportamentais", como imprudência e beber e dirigir.
Duarte diz que o perfil das vítimas é de jovens, com pouca experiência, dirigindo à noite nos finais de semana.
"Potencializado pela velocidade, pode ter acontecido de ter esse sobressalto."
Matéria publicada originalmente na Folha de S. Paulo.