Sob pressão de vereadores, Haddad troca um subprefeito a cada 20 dias

Por Artur Rodrigues

A reboque da pressão de vereadores, o prefeito Fernando Haddad (PT) tem trocado um subprefeito da cidade, em média, a cada 20 dias.

Essa alta rotatividade tem provocado queixas de moradores, que associam a descontinuidade a problemas de diálogo, fiscalização e zeladoria em seus bairros.

Desde o início da gestão, em 2013, 79 nomes passaram pelas 32 subprefeituras. Apenas cinco regionais mantiveram a mesma pessoa no cargo. Em 16, houve ao menos três titulares diferentes, entre efetivos e temporários, segundo dados obtidos pela Folha por meio da Lei de Acesso à Informação.

Entidades de bairro e especialistas afirmam que as trocas constantes interrompem projetos em andamento e dificultam o diálogo com moradores, o que vai na contramão do discurso de fortalecimento das regionais.

Parte dessas trocas foi motivada por questões políticas, após o prefeito mudar a promessa inicial e passar a aceitar indicações de vereadores, que buscam ganhar influência em suas zonas eleitorais. A prefeitura diz que o número de trocas não está acima da média do serviço público.

Influência

Vereadores têm influência na escolha tanto do subprefeito como de cargos do segundo escalão. Na Vila Prudente (zona leste), por exemplo, o chefe de gabinete é José de Deus Alencar, ligado à vereadora Edir Sales (PSD).

Em Guaianases (zona leste), o subprefeito Josafa Caldas de Oliveira é ligado ao PC do B. Ele assumiu em abril. Na Lapa (zona oeste), que teve quatro subprefeitos diferentes só em 2014, o atual titular do cargo é José Antonio Varela Queija, ligado ao vereador Eliseu Gabriel (PSB).

"Com todos os novos subprefeitos eu marco reunião. Entrego a demanda e, nessa mudança toda, eles não têm nem condições de responder", diz a arquiteta Maria Laura Fogaça Zei, 55, da Assampalba (associação de moradores do Alto da Lapa).

Entre os problemas que não estão sendo resolvidos, diz, está a proliferação de clínicas de repouso clandestinas e de comércios irregulares na City Lapa, uma área residencial da cidade.

Diversas ruas na região estão com mato alto e lixo. Problemas como esses, de responsabilidade das regionais, estão no topo das queixas de moradores.

Na Vila Prudente, por onde passaram quatro subprefeitos desde o início da gestão Haddad, moradores associam as trocas a problemas como pedidos de asfaltamento não atendidos.

"Isso prejudica a continuidade de trabalhos de médio e longo prazos", afirma o engenheiro Victor Gers Junior, 50, da Amoviza (associação de moradores da Vila Zelina).

Para Henrique Deloste, 49, integrante da Associação de Moradores da Cachoeirinha e Brasilândia, na zona norte da cidade, a prefeitura deveria ouvir a população antes de fazer mudanças.

A associação tem questões ligadas a duas subprefeituras, Casa Verde/Cachoeirinha e Freguesia/Brasilândia, cada uma com três titulares nos últimos dois anos e meio.

"Na Brasilândia, já estávamos nos dando bem com o último [subprefeito] e trocaram por questões políticas", diz.

Outro lado

A gestão Fernando Haddad afirma considerar que a troca dos titulares das subprefeituras não está acima da média em relação a outras áreas do serviço público.

"Tem muita substituição ao longo de quatro anos de governo que são naturais. Não acho que estamos fora desse padrão com os subprefeitos", diz a vice-prefeita Nádia Campeão (PCdoB), que tem feito a articulação entre subprefeituras e as secretarias.

Segundo ela, as trocas se devem a questões como desempenho dos subprefeitos e também de casos em que os próprios servidores pedem para deixar o cargo -que, segundo ela, é alvo de muita pressão da sociedade.

"Após um tempo, claro, você tem uma avaliação onde a população está mais satisfeita", afirma a vice de Haddad.

Em alguns casos, segundo ela, funcionários assumem o cargo temporariamente por períodos curtos, até que o titular seja escolhido, o que influencia no tamanho da lista.

Entre os temporários, há casos de pessoas que ficam menos de 30 dias, mas outros que ficam até seis meses. Ela declara, porém, que a exigência inicial do prefeito, de que fossem funcionários de carreira, foi mantida.

Houve apenas uma flexibilização -inicialmente eram apenas servidores municipais, e agora há também estaduais e federais. "A gente nunca achou que não é legítimo ter apoio político ou indicações", afirma.

Nádia diz que o projeto Prefeitura no Bairro (que leva as secretarias para as regiões) tem ajudado a melhorar a zeladoria, mas nega que o trabalho dos subprefeitos deixe a desejar nesse ponto.

Ela afirma que a prefeitura trava uma "guerra" contra o vandalismo e o descarte irregular de lixo nos bairros. "Tem uma hora que a cidade parece feia, suja ou abandonada não é porque você não está limpando, é porque o vandalismo é terrível, o descarte irregular é uma luta titânica que a gente trava", diz.

Segundo ela, o número de equipes de zeladoria não é suficiente. "A cidade não é uma cidade europeia, desenvolvida ou que tenha recursos. A gente faz rodízio nas equipes que nós temos", afirma.

Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo

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