Por André Monteiro
Após a redução dos limites de velocidade, o trânsito na marginal Tietê melhorou à tarde e piorou pela manhã, apontam dados tabulados pela Folha com base nos índices de lentidão informados no site da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego).
Desde 20 de julho, as máximas nas marginais caíram para 50 km/h nas pistas locais e 70 km/h nas expressas.
O cálculo da reportagem considera apenas os dias úteis das duas semanas posteriores à volta às aulas neste ano (3.ago) e no ano passado (29.jul) -período em que o trânsito não é influenciado pelas férias escolares.
Os dados apontam que os congestionamentos ficaram menores no pico da tarde (das 17h às 20h). A média de lentidão caiu de 11,6 km para 8,7 km na pista expressa e de 9,3 km para 5 km na local.
No rush da manhã (das 7h às 10h) foi o inverso: a média subiu de 3,9 km para 5,9 km na pista expressa e de 2,7 km para 4,2 km na pista local.
Na marginal Pinheiros, via com menos volume de tráfego em relação à Tietê, a comparação aponta que as médias de congestionamento tiveram variação menor.
Apesar de preliminar, o resultado embaralha o debate sobre os impactos da medida implantada pela gestão Fernando Haddad (PT) nas duas vias da cidade.
A piora dos congestionamentos de manhã reforça a crítica de que a redução da velocidade prejudica o trânsito, argumento usado pela OAB-SP na Justiça.
Por outro lado, os dados ajudam quem defende que a redução melhora a segurança sem causar transtorno ao trânsito -até beneficiando a circulação dos veículos.
Ao anunciar os novos limites, a gestão Haddad afirmou que o objetivo principal era reduzir acidentes, mas também disse que poderia haver melhora do trânsito porque os veículos trafegariam com menor distância entre si.
Procurada, a CET preferiu não comentar os dados. A Folha apurou que um balanço entregue ao prefeito, abrangendo um período maior, aponta redução de congestionamento no pico da tarde e estabilidade no da manhã.
Também será destacada a redução de acidentes -até a última semana, a queda estava na casa dos 20% a 30%.
Hipóteses
Especialistas ouvidos pela Folha afirmam que seria preciso mais tempo e mais informações para analisar os impactos da redução de forma definitiva, mas apontam hipóteses para a variação da lentidão na marginal Tietê.
Dizem que ela pode ter seguido a tendência geral da cidade -no mesmo período, a lentidão caiu à tarde (de 167 para 129 km) e aumentou de manhã (de 84 para 95 km).
Crítico da mudança, o engenheiro Sergio Ejzenberg afirma ainda que a via também pode ter sido beneficiada por uma redução do volume de caminhões devido à queda no transporte de cargas e à abertura de novo trecho do Rodoanel Leste.
Outra hipótese, diz, é o aumento do uso de aplicativos de rotas alternativas.
Horácio Figueira, consultor em engenharia de tráfego que defende a redução de velocidade, diz que seria preciso ao menos um mês para avaliar melhor o impacto. "Estão ocorrendo oscilações que podem se acomodar depois, mas acho que no geral está sendo favorável", diz.
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo