Gestão de crise da água de SP foi ineficiente, diz presidente da ANA

O presidente da ANA (Agência Nacional de Águas), Vicente Andreu, subiu o tom às críticas à gestão dos recursos hídricos do governo Geraldo Alckmin (PSDB) e o classificou como "bastante ineficiente", em um discurso nesta quinta-feira (20).

Segundo o executivo da estatal, a ineficiência se deu devido à demora de tomadas de medidas como a redução de captação de água do sistema Cantareira, que hoje está em estado crítico de abastecimento. A declaração foi feita durante a audiência pública que discute os efeitos da crise hídrica em SP.

"Se nós tivéssemos padrões de retirada do sistema Cantareira de 2015 já em 2014. Ou seja, se houvesse preparação para a crise, nós teríamos água nos reservatórios para, mesmo num período de 2015 e 2016, teríamos condições de garantia hídrico até 2017. Porém, o retardamento na tomada de decisão obviamente levou a uma gestão, na minha opinião, bastante ineficiente", disse.

Andreu ressaltou que, apesar da "ineficiência", a Sabesp e o governo do Estado não cometeu ilegalidades na gestão.

Ao longo de seu discurso de 30 minutos, Andreu disse ainda que o fato da regulação no Cantareira ser partilhada (entre governo federal e estadual) dificultou a ação da ANA na crise.

Andreu ainda criticou o que chamou de influência eleitoral sobre a condução da crise, que já se desenhava na eleição de 2014 que reconduziu o governador Geraldo Alckmin (PSDB) ao poder no primeiro turno.

Nova Outorga do Cantareira

As declarações do presidente da ANA e a audiência pública ocorrem durante as discussões entre a ANA e o Daee (departamento estadual de águas) sobre a nova outorga (autorização) de captação de água no sistema Cantareira.

As negociações, que contarão com audiências públicas, foram adiadas no final do ano passado, devido à crise hídrica. Segundo o novo cronograma, a nova outorga deverá sair até o mês de outubro deste ano.

Andreu declarou que a ANA quer que a nova outorga tenha gatilhos de níveis de criticidade, de acordo com o nível de água nos reservatórios. Pela ideia, de acordo com a quantidade de água no reservatório, uma série de medidas restritivas deverão ser adotadas.

Outra novidade deverá ser, segundo quer a ANA, a inclusão do reservatório Paiva Castro, em Mairiporã, como parte da outorga dada à Sabesp. O reservatório Paiva Castro faz parte do sistema Cantareira, no entanto, os rios que o alimentam são estaduais e, por isso, a represa não é contabilizada na atual outorga dada pela ANA e o Daee à Sabesp.

A mudança deve alterar a proporção de água enviada à Grande São Paulo e à região de Campinas, abastecida pela bacia do PCJ, com privilégio desta última.

Ex-amigo

Enquanto comentava a atual outorga de captação do Cantareira, Andreu declarou que o presidente da Sabesp já não é mais seu grande amigo.

"Quem eram os diretores da Agência Nacional de Águas que concederam a outorga em 2004 para a Sabesp? Benedito Braga [atual secretário de recursos hídricos do governo paulista], grande amigo meu, e Jerson Kelman [atual presidente da Sabesp], que já foi um grande amigo meu", disse.

Após o discurso, quando questionado sobre o fim da amizade, Andreu pediu que os jornalistas questionassem o presidente da Sabesp sobre o fato. 

Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo

Compartilhe este artigo