Transporte em SP tem sua pior avaliação

Principal queda foi na satisfação de passageiros do metrô; ônibus da capital também registram pior marca em uma década. Levantamento põe em xeque bandeiras de Alckmin e de Haddad; lotação e expansão lenta são explicações.

Por André Monteiro – da Folha de S. Paulo.

O transporte público de São Paulo teve no último ano a pior avaliação dos passageiros em uma década –deixando em xeque tanto bandeiras do governador Geraldo Alckmin (PSDB) como do prefeito Fernando Haddad (PT).

Os resultados negativos são de pesquisa inédita da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos) –referência de técnicos e financiada pelos próprios órgãos públicos e privados do setor.

O levantamento aponta que a maior queda foi na satisfação de usuários do metrô. Esse sistema já teve 93% de avaliações excelentes ou boas em 2006 –índice que estava em 75% em 2012 e caiu para 64% no ano passado.

A principal explicação para os resultados é a crescente superlotação, agravada por seguidos atrasos na expansão.

Mesmo com a piora, a aprovação do metrô ainda é muito superior à dos ônibus na capital. Bandeira da gestão Haddad, que apostou em faixas exclusivas, os coletivos municipais não tiveram nenhum sinal de recuperação na opinião dos passageiros.

Eles continuam com a pior avaliação dentre os principais meios –entre 2012 e 2014, a satisfação oscilou de 35% para 34%, dentro da margem de erro de dois pontos percentuais, mas a menor marca numérica em uma década.

Uma das explicações é que, na prática, os ônibus em geral estão quase tão lentos como sempre: em 2014, a velocidade do sistema ficou em 15 km/h, ante a meta de 25 km/h.

Os resultados do levantamento da ANTP eram divulgados com alarde anteriormente. Em 2013, ano marcado pelos protestos de junho, a pesquisa não foi realizada.

Os dados negativos do ano passado foram mantidos sob sigilo –mas vazaram por meio de um relatório do TCM (Tribunal de Contas do Município) de julho de 2015.

A pesquisa (com usuários frequentes) ouviu 3.300 pessoas na Grande São Paulo.

Os trens da CPTM também tiveram a pior marca numérica em dez anos –a aprovação oscilou de 44% para 40%, no limite da margem de erro.

Segundo especialistas, a demanda por transporte vem crescendo mais que a oferta, agravando a espera, a superlotação e a insatisfação.

"Tem mais gente usando e querendo usar, até por uma procura de alternativa ao carro, mas o sistema não está crescendo no mesmo ritmo, com novos corredores e linhas de metrô. As grandes inaugurações ainda não vieram para dar uma aliviada", afirma Renato Arbex, mestre em transportes pela USP.

Em dez anos, a rede do metrô cresceu 36% e os usuários, 92%. Quase todas as obras do governo Alckmin estão atrasadas. Os corredores de ônibus de Haddad também patinam. De 150 km prometidos, somente 38 km tiveram as obras iniciadas até agora.

Matéria publicada originalmente na Folha de S. Paulo.

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