Por ARTUR RODRIGUES, DE SÃO PAULO – Folha de S. Paulo
A gestão Fernando Haddad (PT) está longe do cumprimento da meta que fixou para a reciclagem na cidade, e as usinas de processamento de lixo estão subutilizadas.
A promessa do prefeito é ampliar de 1% para 10% a proporção de lixo produzido reciclado até 2016 –índice que se limitava a 2,5% em julho.
Na gestão Haddad, foram inauguradas duas centrais mecanizadas de triagem, que aumentaram a capacidade de processamento dos materiais –para 750 toneladas por dia.
No entanto, mesmo com a ampliação da coleta de lixo porta a porta, a capital paulista não está processando nem um terço disso.
A prefeitura argumenta que ainda há baixa adesão e que há empresas clandestinas que furtam os materiais separados pela população.
O resultado é que as duas centrais de processamento de lixo, uma em Santo Amaro (zona sul) e outra na Ponte Pequena (região central), operam com grande ociosidade.
Na última sexta-feira (18), por exemplo, a Folha esteve na usina de Santo Amaro e, às 15h40, os equipamentos já estavam limpos e não havia mais ninguém trabalhando.
O cumprimento da meta da gestão petista esbarra no fato de a prefeitura ainda não ter universalizado a coleta porta a porta e a população não aderir em massa ao programa.
Hoje, dos 96 distritos da cidade, 46 têm a coleta seletiva universalizada, 39 parcial e 11, não dispõem do serviço.
Nos locais sem coleta, a orientação da prefeitura é descartar os recicláveis em um dos ecopontos ou postos de entrega voluntária.
"O ponto de entrega mais perto de casa na minha região fica a dois quilômetros. E eles acham perto", diz a veterinária Fernanda Jordão Affonso, 28, que faz a separação do lixo em um tonel e leva a uma cooperativa de catadores.
Moradora da Vila Oratório (zona leste), ela diz sentir que bairros mais nobres são privilegiados com mais ruas incluídas na coleta porta a porta e mais postos de entrega. "Fico com raiva. Na Vila Madalena [zona oeste], em uma rua tem cinco postos."
A arquiteta e consultora ambiental Verônica Polzer, 34, conta que a coleta seletiva só chegou em sua rua, em Pinheiros (zona oeste), após reclamações de moradores. Mesmo assim, ainda há casos em que os caminhões não passam e os recicláveis acabam no lixo comum.
Especialista em resíduos sólidos, ela afirma ter ido até a Suécia estudar esse assunto. "Lá não tem coleta porta a porta, mas a legislação obriga a existir um posto de entrega a cada 300 metros." O resultado, diz, é que 48% dos resíduos vão para a reciclagem ou compostagem.
Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental, cobra iniciativas para engajar a sociedade na coleta seletiva –por meio de escolas, associações comunitárias e igrejas.
"O governo habituou-se a uma zona de conforto, apenas anuncia as coisas ou instala, mas não trabalha ativamente para que haja transformação. Não adianta colocar um postinho para entrega e pronto.
Matéria publicada originalmente na Folha de S. Paulo.
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