Por FABRÍCIO LOBEL, DE SÃO PAULO – Folha de S. Paulo
"Mandaram a gente arrepiar, para poder entregar a obra até o dia 29", conta um operário responsável pela solda de tubos gigantes de plástico na principal obra do governo Geraldo Alckmin (PSDB) para evitar um rodízio de água na Grande SP.
A Folha esteve nesta semana em diferentes locais da obra que irá interligar, por meio de 7 km de tubulação, a cheia represa Rio Grande com o quase vazio sistema Alto Tietê, no extremo leste da região metropolitana da capital.
O objetivo dessa ligação é encher ao máximo as represas do Alto Tietê para que a água excedente possa ser empurrada para residências das zonas leste e norte. Essas áreas são hoje atendidas pelo Cantareira, o principal reservatório da Grande São Paulo e atualmente à beira de um colapso.
Segundo relatos de operários, a ordem é acelerar os trabalho para finalizar a obra ainda em setembro –a promessa inicial de Alckmin era entregá-la em maio, no início da temporada de estiagem.
"A gente está trabalhando todo dia para entregar até o final do mês. Mas tem coisas que não são previstas e que podem acontecer. É uma obra muito difícil", diz o chefe de uma das frentes de trabalho.
"Desde essa semana, cada um dos dois turnos está trabalhando uma hora a mais, para dar tempo de terminar tudo até o dia 29", conta outro encarregado de obras.
Ele trabalha na fase final do projeto, no desemboque dos tubos. Por ali, na última semana, os operários ficaram cinco dias sem trabalhar depois que a forte chuva que castigou bairros na capital também inundou uma cratera aberta pelos operários.
No buraco, deve ainda ser construída uma estrutura de concreto que irá reduzir a pressão da água bombeada antes que ela chegue a um córrego e a uma represa.
Mas, por causa das recentes chuvas que chegaram a alagar avenidas em São Paulo, a estrutura ainda está em suas fundações.
Perto dali, Carlos Gomes, 52, se preocupa desde que se iniciaram as obras com a possibilidade que a água trazida pelos canos inunde a sua rua.
"Aqui sempre alagou com qualquer chuva. Imagina se trouxerem mais água. Mas os técnicos da Sabesp me garantiram que, em dias de chuva, não será feito bombeamento."
Os operários têm motivos para duvidar do prazo de entrega, afinal um impasse entre a Sabesp e a Prefeitura de Rio Grande da Serra fez com que uma equipe cruzasse os braços por duas semanas, sem ter trabalho para fazer. "Enquanto não bloqueassem uma avenida, a gente não conseguiria passar os tubos", relembra um dos trabalhadores.
Depois que os engenheiros da obra viram sua equipe sem serviço, a transferiram para outra frente de trabalho. Agora, eles tiveram que aumentar o ritmo de produção para compensar o tempo parado.
Além disso, uma balsa que ajudava a nivelar o leito do rio sobre o qual seriam colocados os tubos atolou na lama. E engenheiros ainda tentam solucionar como retirar a balsa do brejo e terminar o serviço numa área cheia de chácaras.
A Sabesp diz que a obra está 94% pronta e que nem mesmo a balsa encalhada deverá atrasar a entrega programada para este mês.
Matéria publicada originalmente na Folha de S. Paulo.