Debate revela preocupação com mortes causadas por acidentes de trânsito e poluição do ar

Assunto foi o principal destaque do debate realizado no evento de lançamento da Pesquisa sobre Mobilidade Urbana, promovido pela Rede Nossa São Paulo e FecomercioSP

Por Airton Goes, da Rede Nossa São Paulo

A poluição do ar e os acidentes de transito, bem como suas consequências para a saúde dos paulistanos, foram os principais temas do debate realizado no evento de lançamento da Pesquisa de Mobilidade Urbana, promovido pela Rede Nossa São Paulo e Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).

Com a participação do secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, e diversos outros convidados, o debate evidenciou a preocupação com as mortes causas por doenças respiratórias relacionadas à concentração de poluentes e pelos acidentes nas vias da cidade. 

Realizado na terça (22/9), logo após a apresentação dos resultados da Pesquisa sobre Mobilidade Urbana, o debate contou com a mediação de Carlos Aranha, do Grupo de Trabalho (GT) Mobilidade Urbana da Rede Nossa São Paulo.

Primeira a fazer uso da palavra, a diretora-presidente do Instituto Saúde e Sustentabilidade, Evangelina Vormittag, denunciou que 35 pessoas morrem por dia, em média, devido a doenças causadas pela poluição do ar no Estado de São Paulo. 

Lembrando que na Assembleia Legislativa há um projeto de lei para a implantação da inspeção ambiental veicular no âmbito estadual, ela cobrou a aprovação e colocação em prática da medida. “O problema vai se agravando, sem iniciativas para reduzir a poluição do ar”, criticou.

Jilmar Tatto, secretário municipal de Transportes, argumentou que o principal responsável pela poluição atmosférica é carro particular. Em relação às iniciativas da Prefeitura para reduzir acidentes e mortes no trânsito, ele destacou as ciclovias e a redução da velocidade máxima nas principais vias da cidade. 

“As ciclofaixas que estamos fazendo são para dar mais segurança aos ciclistas”, afirmou Tatto, antes de complementar: “As pessoas vão perceber, cada vez mais, que a redução da velocidade máxima [nas vias da capital paulista] é melhor para a cidade”.

O representante da Secretaria Municipal de Saúde, Ruy Paulo Nunes, falou sobre a relação entre a mobilidade urbana e os custos do sistema de saúde. Segundo ele, o maior porcentual de mortes na cidade é causado por doenças crônicas não transmissíveis ou por causas externas, o que inclui as doenças relacionadas à poluição do ar e aos acidentes de trânsito.      

Marcelo Pereira Bales, gerente do Setor de Avaliação de Emissões Veiculares da Cetesb – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, explicou como a empresa faz o monitoramento do ar.  Ele concordou que o ar da Região Metropolitana está poluído e que o principal gerador de poluentes é o carro. Em relação ao material particulado, detalhou: “em 18% dos dias de 2014, a qualidade do ar não estava protegendo a saúde das pessoas”. 

Bales defendeu a necessidade de aproximar o paulistano de seu local de trabalho ou de estudo, para reduzir a quantidade de deslocamentos pela cidade.  

Jakow Grajew, especialista em trânsito, relatou que o trânsito é uma das principais causas de mortes e invalidez no mundo. Ele lembrou que no Brasil já existe um plano para reduzir à metade os acidentes de trânsito até 2020. Entretanto, de acordo com Grajew, o plano não tem apresentado resultados positivos. “Estamos no mesmo patamar”, lamentou. 

Segundo o especialista em trânsito, alguns países e cidades da Europa estão conseguindo superar a meta – de reduzir à metade as mortes por acidentes de trânsito. “Em 2002, na Espanha se matava [no trânsito] 13 pessoas por 100 mil, enquanto no Estado de São Paulo o índice de mortes era 16 por 100 mil”, informou, antes de complementar: “Dez anos depois, a Espanha mata menos de quatro por 100 mil, e no Estado de São Paulo o índice está em 17”.

Uma das explicações para a redução dos acidentes na Espanha, de acordo com ele, é o fato de a administração do trânsito naquele país não estar subordinada à ingerência política. “A principal missão da administração do trânsito [espanhola] é que todos cheguem sãos e salvos em casa todos os dias”, pontuou. 

Maurício Broinizi, coordenador da Secretaria Executiva da Rede Nossa São Paulo, destacou o fato de a Pesquisa sobre Mobilidade Urbana apontar que 64% dos paulistanos são favoráveis à abertura exclusiva da Avenida Paulista para pedestres e ciclistas aos domingos. “Fico feliz, pois acho que começamos a realizar parte desse outro modelo de cidade que defendemos há vários anos.” 

Na avaliação de Broinizi, a sociedade civil tem que continuar batalhando pelas propostas que estejam acima das questões partidárias. 

Multas e motociclistas

Na sequência do debate, o mediador Carlos Aranha fez diversas perguntas aos participantes da mesa. Uma delas era sobre a existência ou não de uma relação direta entre as multas e o número de acidentes na cidade. 

Ao abordar o assunto, Jilmar Tatto esclareceu que 70% dos motoristas da cidade não são multados. “Apenas 5% dos motoristas são responsáveis pela maioria das multas, e essas pessoas têm que ser presas e ter os veículos apreendidos”, defendeu. Ele informou ainda que 83% dos acidentes nas marginais estão vinculados a motos.

Para Jakow Grajew, a multa não está funcionando para reduzir o número de infrações no trânsito. Uma das sugestões apresentadas por ele é obrigar o infrator a comparecer perante uma autoridade ou um juiz, como acontece em alguns países.

O especialista em trânsito também defende um programa de educação dos motoristas. “Tem países e cidades europeias que reciclam seus motoristas, para conduzir os veículos com mais inteligência e, assim, reduzir o consumo de combustíveis e as emissões de poluentes”.

Para concluir, ele sugeriu que a Pesquisa sobre Mobilidade Urbana do próximo ano inclua uma questão específica sobre os motociclistas. “Não se pode tratar do trânsito de São Paulo, sem tratar das motocicletas”, propôs. 

Ao final do evento, o mediador Carlos Aranha estimulou a sociedade civil a continuar defendendo políticas de longo prazo para a cidade.  

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