Por André Monteiro
A queda de 19% nas mortes em acidentes de trânsito nos primeiros seis meses deste ano foi a maior da cidade de São Paulo em ao menos uma década.
A quantidade absoluta de vítimas fatais também foi a menor já registrada em um semestre ao menos desde 2005 –ano em que a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) retomou os registros de mortes no trânsito com os critérios atuais.
O balanço divulgado pelo prefeito Fernando Haddad (PT) apontou uma diminuição de 637 para 519 mortes –na comparação de 2014 e 2015, entre janeiro e junho.
Especialistas apontam uma combinação de fatores que podem ter contribuído para que houvesse menos vítimas tanto entre motoristas e passageiros como de pedestres, motociclistas e ciclistas.
Para Haddad, a queda é reflexo de ações de sua gestão, como implantação de faixas de pedestres, lombadas eletrônicas, áreas com limite de 40 km/h e a rede de ciclovias -que se expandiu de 65 km para 303 km em um ano, a partir de junho de 2014. "O ciclista está mais seguro. Isso é malha cicloviária", afirmou.
Apesar da redução, a taxa de mortes no trânsito da capital paulista –que caiu de 10,5 para 9,5 por 100 mil habitantes– ainda está muito acima da de cidades desenvolvidas como Londres (1,5) ou Nova York (2,9) e longe da meta (6) fixada por SP para 2020.
A redução das vítimas no trânsito ocorreu em um semestre marcado pelo aperto de fiscalização de agentes da prefeitura e de policiais, além do aumento dos radares –que quase dobraram. Com isso, as multas subiram 22%.
O engenheiro Luiz Célio Bottura, ex-ombudsman da CET, avalia que as reduções dos limites de velocidade em algumas vias podem ter contribuído com os resultados, assim como a crise econômica.
Apesar das mudanças das velocidades máximas terem sido intensificadas só a partir de julho, a gestão Haddad já havia adotado a medida em mais de 90 km de vias.
"Menos viagens quer dizer menos gente exposta ao risco de acidentes. E, de tanto se falar no assunto, com campanhas educativas e na imprensa, acho que as pessoas devem estar tentando evitar os excessos", afirma Bottura.
O prefeito disse não ver relação entre a crise econômica e a redução de acidentes. "Só tem crise no Estado de São Paulo? O problema econômico é no Brasil inteiro", afirmou Haddad, que disse ter consultado outras cidades onde a tendência é diferente.
Horário Figueira, mestre em engenharia de transportes pela USP, afirma que, além do aumento de radares, a diminuição de acidentes pode ser resultado de aumento nas blitze da Lei Seca.
Ele é autor de estudo que apontou que a madrugada concentrava só 3,5% das viagens em São Paulo, mas respondia por 18% das mortes.
Esta foi a primeira vez que Haddad fez a divulgação destes dados. Até então, eles eram informados pela CET ou Secretaria de Transportes e na forma de balanço anual, não semestral. Em 2014 houve aumento de 14% no número de mortes no primeiro semestre, mas os dados só foram incluídos em estudo divulgado em abril deste ano.
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo