Por André Monteiro
As motos representam 13% da frota paulistana e seus ocupantes são metade dos feridos em acidentes de trânsito na cidade. Os motoqueiros, entretanto, recebem apenas 4% das multas aplicadas pela Prefeitura de São Paulo.
Os dados expõem o veículo sobre duas rodas como o principal gargalo da gestão Fernando Haddad (PT) no combate à violência do trânsito.
Hoje, a diferença entre a participação das motos no total da frota e no total das multas é a maior entre todos os tipos de veículos e se mantém no mesmo patamar desde o início da gestão, segundo números da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego).
Perigo sobre duas rodas
Motos representam 13% da frota da capital paulista, mas só recebem 4% das multas
Segundo especialistas, é preciso rever a fiscalização para reduzir ainda mais as mortes de condutores e garupas em motos. A queda no primeiro semestre deste ano foi de 14%, índice menor do que o de outros tipos de usuários.
De janeiro a junho deste ano, foram 189 ocupantes de mortos mortos na cidade, contra 85 de carros, por exemplo.
"A moto, hoje, é o grande problema do trânsito de São Paulo. Uma grande parcela dos motociclistas, infelizmente, ninguém mais segura. Andam acima da velocidade, na contramão, furam o semáforo vermelho", afirma Horário Figueira, mestre em transportes pela USP.
Uma pesquisa coordenada por ele e executada pela CET no início do ano apontou que os motociclistas são, proporcionalmente, os que mais cometem infrações na cidade.
Motos nas Marginais
Participação desses veículos em acidentes chega a 83%*
Figueira defende que a prefeitura passe a vetar o uso do corredor entre os carros para as motos. "Existe base legal para multar, mas a CET não multa porque não quer", diz.
Originalmente, o código de trânsito de 1998 proibia explicitamente as motos entre as faixas, mas o artigo foi vetado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.
O engenheiro diz, no entanto, que outros artigos da lei são desrespeitados quando se anda no corredor: ultrapassagem pela direita, desrespeitar a distância lateral e circulação fora da faixa própria.
Em 2007, após alta nas mortes, a CET chegou a anunciar que faria essa fiscalização —mas a ideia não foi adiante.
"Reclamam que isso pode acabar com a mobilidade da moto, mas uma mobilidade com infração de trânsito não deve ser aceita em nenhuma sociedade civilizada", diz.
Para o engenheiro Eduardo Vasconcellos, consultor da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), a redução dos acidentes passa por uma maior fiscalização do excesso de velocidade e por medidas que impeçam que os motociclistas circulem perto dos outros veículos.
"Motos são mais vulneráveis por uma questão física, muito mais leves. Onde elas circulam ao lado de veículos mais pesados, deveria haver um tratamento especial."
A gestão Haddad reconhece que enfrenta dificuldades para fiscalizar as motos, mas afirma estar tomando medidas, como o uso de radares portáteis nas marginais.
Redução da Velocidade
O secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, afirma que a fiscalização das infrações de motociclistas foi intensificada pela gestão Fernando Haddad (PT) para reduzir os acidentes.
No entanto, diz que outras medidas, como a redução dos limites de velocidade nas marginais Pinheiros e Tietê, podem estar incentivando uma postura mais perigosa.
"A gente está percebendo que, como reduzimos o limite de velocidade, eles estão se sentido mais seguros para correr entre os veículos. Então ali tem que acentuar e melhorar a fiscalização para eles, porque 80% dos acidentes nas marginais estão relacionados a motos", diz.
Entre as principais medidas adotadas está o uso de radares-pistola para flagrar motos acima da velocidade em 38 pontos das duas vias.
"Estamos monitorando para ver o comportamento dos motociclistas e se vai diminuir o número de acidentes. Já há uma pequena mexida, temos observado. Se for necessário tomaremos outras medidas, mas por enquanto só vamos melhorar a fiscalização."
Dos 818 radares da cidade, 70% têm tecnologia capaz de flagrar motos. Mas Tatto diz que elas "escapam" mesmo destes aparelhos. "Às vezes eles tampam a placa, sabem onde estão os radares. E há ponto cego, quando a moto está entre os carros o radar não pega, ou eles desviam."
Gilberto dos Santos, presidente do sindicato dos motoboys, nega que as motos sejam as "vilãs do trânsito".
"Não adianta encher de multa, isso só vai piorar os acidentes porque o cara não vai ter dinheiro para o licenciamento e a manutenção."
Ele defende a regulamentação do corredor entre as faixas e diz que a gestão Haddad "não está preocupada com os motociclistas, só pensa em arrecadar e fazer ciclovia".
"São Paulo tem um acumulado de ciladas para as motos. Precisamos de políticas públicas sérias para ter resultado."
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo