Por André Monteiro
As mortes em acidentes de trânsito caíram 21% nas principais rodovias de São Paulo nos primeiros oito meses deste ano –a maior diminuição em mais de uma década e meia e que repete tendência também verificada em ruas e avenidas da capital paulista.
A crise econômica, que levou à queda do fluxo de veículos pesados, é apontada por especialistas e pela Artesp (agência paulista de transportes) como um dos fatores contribuintes, embora insuficiente para explicar a dimensão dos resultados.
O balanço que abrange a malha concedida à iniciativa privada –que inclui 6.400 km entre as estradas mais movimentadas do Estado– aponta 572 mortes de janeiro a agosto, contra 722 no mesmo período do ano passado.
Segundo a Artesp, é a maior redução nas mortes desde que essas rodovias passaram a ser concedidas à iniciativa privada, em 1998.
No ano passado, as mortes no trânsito brasileiro já tinham caído 6% –embora os índices ainda sejam quase três vezes superiores ao de países desenvolvidos.
No primeiro semestre de 2015, as mortes na capital paulista baixaram 19% –a maior diminuição em dez anos.
Ela foi exaltada pela gestão Fernando Haddad (PT) como resultado de ações da prefeitura, incluindo a expansão da rede de ciclovias. Os número estaduais, no entanto, indicam que esse fenômeno não é localizado.
Estatísticas de boletins de ocorrência (que consideram mortes no local do acidente) também apontam queda de 16% nessas vítimas em agosto, ante igual mês de 2014.
Movimento
Os números de acidentes e de feridos nas estradas paulistas também caíram, embora de forma mais tímida –11%. Segundo especialistas, eles apontam que os acidentes ficaram menos graves.
O volume de veículos pesados nas rodovias concedidas caiu 5,5% neste ano -caminhões e ônibus costumam estar envolvidos em um terço dos acidentes, justamente os mais graves. O volume de leves subiu 1,2%, segundo a associação de concessionárias.
Paulo Guimarães, diretor técnico do Observatório Nacional de Segurança Viária, diz que a menor quantidade de veículos em circulação pode interferir. "A redução de volume também impacta, porque acaba reduzindo os níveis de exposição a acidentes."
Além da crise econômica, diversos fatores podem ter contribuído para a redução recorde nas mortes, segundo a Artesp e especialistas.
Entre eles, a intensificação de campanhas de conscientização dos motoristas e a melhoria nos itens de segurança em estradas e veículos.
"Se as mortes caíram com mais intensidade do que os acidentes, quer dizer que aumentou a proteção dos motoristas e passageiros. E isso ocorre principalmente com uso do cinto de segurança", afirma Luiz Carlos Mantovani Néspoli, superintendente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos).
Segundo a Artesp, a principal ação de segurança adotada neste ano foi uma campanha para uso do cinto no banco de trás dos carros.
Carlos Alberto Ferraz Campos, gerente de segurança da agência, após a exibição de peças em rádios, TVs e distribuição de panfletos nos pedágios, os índices de uso subiram –de 56% em dezembro para 62% em agosto.
Ele também atribui a redução nas mortes a ações como a manutenção de pista e sinalização e equipes de socorro em caso de acidentes.
"É uma coisa que vem dando resultado e que vem se somando ao longo dos anos."
Atropelamento e Coalisão
Um quarto das mortes nas estradas paulistas operadas por concessionárias neste ano foi de pedestres atropelados.
Outros 19% do total de vítimas morreram em decorrência de colisões traseiras, quando um veículo atinge outro que está à sua frente na estrada.
São esses os dois principais motivos de mortes nas rodovias, segundo o balanço da Artesp de janeiro a agosto deste ano.
Para especialistas, ações como implantação de passarelas e maior fiscalização de limite de velocidade, abuso de álcool e uso do celular ao volante podem ajudar a combater esses dois tipos de acidente.
Luiz Carlos Mantovani Néspoli, da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), diz que os pedestres representam a maior parte das vítimas porque muitas rodovias atravessam áreas urbanas.
"Nas cidades que convivem com estradas, isso é um problema sério. Acaba tendo uma mistura de uso local com uso rodoviário. As passarelas podem estar muito distantes umas das outras e, dependendo das condições, principalmente à noite, o pessoal acaba se arriscando a cruzar a via pelo medo de usar a passarela e ser assaltado."
Paulo Guimarães, do Observatório Nacional de Segurança Viária, diz que o principal fator que influencia a colisão traseira é o desrespeito à distância de segurança que se deve guardar do carro à frente.
"Faz tempo que não vejo usarem aquela marcação de solo, uma espécie de círculo, que ajuda você a calcular se está respeitando essa distância", diz.
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo