Por André Monteiro
A reforma na rede de semáforos de São Paulo, promessa da gestão Fernando Haddad (PT) para resolver as panes que travam o trânsito, não será concluída antes do próximo verão –quando as falhas são mais frequentes devido aos temporais.
O trabalho foi contratado em 2013, por R$ 222 milhões. A previsão era reformar 80% da rede até agosto deste ano, antes do início da temporada de chuvas. Mas, com a falta de recursos, os contratos foram suspensos em julho.
Desde o início da reforma, cresceu o número de semáforos que ficam desligados e complicam a organização do tráfego nos cruzamentos. O aumento foi questionado em auditoria do TCM (Tribunal de Contas do Município). A média mensal de aparelhos inoperantes em 2012 foi de 1.477. Neste ano, até junho, ficou em 1.655.
Sérgio Torrecillas, diretor de sinalização da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), diz que o número cresceu porque é preciso desligar os semáforos para os trabalhos de revitalização. Descontando essas operações e duplicações na base de dados, a média de falhas neste ano ficou em 776 –uma redução de 47% sobre o índice de 2012.
Torrecillas diz ainda que 26% dos desligamentos ocorrem não por defeitos, mas por dispositivos de proteção que foram instalados na reforma e evitam a queima de peças mais caras quando ocorrem oscilações na rede elétrica.
Crise
A melhoria dos semáforos é prometida há décadas por sucessivas gestões. As panes foram alvo da primeira crítica pública de Haddad ao antecessor, Gilberto Kassab (PSD). Com centenas de aparelhos quebrados em 2013, o prefeito recém empossado disse que havia herdado uma rede "obsoleta".
Agora, a suspensão dos contratos ocorre em um cenário de queda na arrecadação e falta de repasses prometidos pelo governo federal. O diretor da CET diz que a previsão é que o trabalho seja retomado em novembro e concluído "nos primeiros meses do ano que vem".
A prefeitura afirma que 85% da reforma foi executada e que um total 4.537 semáforos foram revitalizados –a cidade tem 6.304. Centenas de equipamentos considerados fundamentais no combate aos apagões, porém, não foram instalados.
É o caso dos no-breaks, dispositivos que mantêm os semáforos funcionando por até duas horas em caso de falta de energia. De 1.400 previstos, foram colocados cerca de 800. A troca de mil controladores (o "computador" dos semáforos) antigos e de tecnologia ultrapassada também ficou pelo caminho –foram instalados 648 até julho.
Com isso, hoje, menos de 10% dos semáforos da cidade são controlados por dispositivos novos. A maioria depende de modelos antigos, com mais de 15 anos de uso. São esses sinais mais velhos que apresentam mais problemas, segundo Torrecillas. E, por isso, a cidade deve continuar convivendo com apagões em série nos cruzamentos em dias de chuva.
No mês passado, por exemplo, o dia mais chuvoso do ano deixou 87 semáforos apagados ao mesmo tempo. "O que mudou foi que as quebras diminuíram muito. Antes, chegamos a ter 400 e demorava até seis dias para resolver. Agora, rapidinho a gente consegue baixar", afirma Torrecillas.
Por contrato, as empresas precisam resolver as panes em até duas horas quando forem responsáveis –elas foram multadas 38 vezes por descumprimento da regra.
"Nossa meta é ter, no máximo, 0,5% dos equipamentos apresentando problema ao mesmo tempo. Em dia de chuva, no máximo 1%", afirma o diretor. Segundo a CET, no último verão a meta só não foi atingida em 5% dos dias.
A companhia atribui parte das panes à Eletropaulo. Quando foi feito o contrato, a concessionária dizia que 93% das quedas de energia eram resolvidas em duas horas, por isso foram exigidos no-breaks com essa capacidade.
Segundo a Eletropaulo, quando há pane nos dias chuvosos, os semáforos deveriam voltar a funcionar automaticamente -e, quando eles voltam e a luz amarela está piscando, o problema é no aparelho, e não na rede elétrica.
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo