Por Rodrigo Russo
Após acenar com a exigência de um intenso plano de investimentos e melhorias no serviço de ônibus no primeiro ano dos novos contratos do transporte público em SP, a gestão do prefeito Fernando Haddad (PT) recuou.
Na versão final dos editais da licitação que selecionará as prestadoras do serviço para as próximas duas décadas, o prazo para que as empresas vencedoras aprimorem o sistema foi duplicado em relação ao previsto no documento inicial –submetido a consulta pública neste ano.
Previa-se, na minuta discutida com a sociedade civil e representantes do setor de transportes, um investimento de R$ 736 milhões já no primeiro ano de contrato.
Os gastos das viações se concentrariam na construção de um moderno centro de controle operacional, para controlar as partidas de todas as linhas em tempo real, mas incluíam ainda itens que tornariam melhor a viagem dos passageiros, como câmeras de segurança, painel de mensagens e sistema de áudio nos ônibus.
Agora, esse investimento será diluído em dois anos, e calcula-se atingir valor menor ao fim desse período, cerca de R$ 650 milhões.
Pior: os itens que deixariam os serviços mais modernos e seguros foram postergados. Essas melhorias serão implementadas apenas depois do segundo ano de contrato, e devem ser concluídas antes do fim do terceiro ano.
Questionada pela Folha, a SPTrans (empresa municipal que gerencia o transporte) afirmou que os novos prazos se devem a um ajuste no cronograma de investimentos.
"O investimento total estimado, conforme publicado na consulta pública, era de R$ 800.538.250. No edital publicado nesta quinta-feira a previsão é de R$ 840.211.750, portanto, R$ 39.673.500,00 a mais do que o previsto inicialmente", divulgou a SPTrans.
Assim, na avaliação do órgão responsável pela licitação, essa elevação de 5% no valor total a ser gasto em três anos justificaria a duplicação do prazo e o corte na primeira etapa de investimentos.
Os novos contratos para serviço de ônibus têm valor estimado em R$ 7 bilhões por ano –R$ 140 bilhões ao fim do prazo de 20 anos, prorrogável por igual período. A última licitação para o setor havia sido feita em 2003.
A gestão Haddad chegou a lançar concorrência em 2013, mas cancelou a disputa em meio aos protestos de junho daquele ano, que tiveram como estopim o aumento da tarifa e punham em questão a qualidade dos serviços. Antes de relançar a licitação, o prefeito concluiu auditoria para revisar os contratos antigos.
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo