Por Ana Carolina Neira
O governo Geraldo Alckmin (PSDB) desrespeitou a distância máxima de 1,5 km prometida para remanejar estudantes entre uma escola que será "fechada" com a reorganização da rede estadual e outra que os receberá.
Esse limite foi anunciado pelo Estado com a justificativa de atenuar os impactos para os alunos que serão transferidos de colégio em 2016.
A reportagem identificou, porém, um caso na zona norte da capital em que estudantes precisarão percorrer 2,5 km a pé ou 3,3 km de carro.
Essa é a distância que vai afetar a rotina de parte dos 207 alunos da escola Professor João Nogueira Lotufo, de Pirituba, devido ao remanejamento para a escola Professor Otto de Barros Vidal.
A reorganização da rede visa dividir as escolas estaduais por ciclos de ensino –atenuando a mistura de alunos do ensino médio e dos anos iniciais e finais do fundamental na mesma unidade.
Com a mudança, 94 colégios serão "fechados" no Estado inteiro –deixarão de integrar a rede, mas, segundo a gestão Alckmin, terão seus prédios utilizados para alguma finalidade educacional. Desses 94, 25 estão na capital.
A reportagem percorreu nesta sexta (30), a pé, a rota entre as duas escolas alvo do remanejamento. Com base no aplicativo Waze, foram 2,5 km de caminhada, em 25 minutos, com obstáculos para crianças, como calçadas quebradas e vias movimentadas.
Os alunos da Professor Lotufo são do ciclo fundamental 1 (1º ao 5º ano), com idades entre 6 e 11 anos.
Um dos pontos mais críticos é uma ponte sem nenhum tipo de proteção nas laterais, na altura do número 1.890 da estrada Turística do Jaraguá.
"Tem gente que nem passa aqui sozinha porque tem medo de assalto", diz Mariana Cristina, 18. O córrego que passa por baixo da ponte preocupa. "Sempre que chove a água transborda rapidinho, alaga tudo", afirma Sebastião Leite, enfermeiro de 46 anos.
O percurso de ônibus até a escola pode ser feito em 12 minutos, após uma caminhada de 150 metros até um ponto. Depois de desembarcar, as crianças terão de enfrentar longa subida de 650 metros.
O outro colégio que vai receber alunos da Lotufo –Professor Júlio Cesar de Oliveira, também em Pirituba– está dentro do limite de distância, 1,3 km a pé ou de carro.
Outro lado
A Secretaria de Estado da Educação afirma que usa outro sistema de localização para verificar a distância entre as escolas, mas não disse qual. Por esse sistema, diz, a escola Professor Lotufo estaria a 1,5 km da Otto de Barros.
A pasta informou também que os pais dos alunos poderão escolher para qual das duas escolas seus filhos serão transferidos –e, posteriormente, ainda poderão trocar de colégio.
Em nota enviada neste sábado (31) à Folha, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo diz:
Sobre a matéria, 'Estado desrespeita distância e manda aluno a 2,5 km', publicada dia 31 no jornal "Agora São Paulo", a Secretaria da Educação do Estado esclarece que o jornal erra ao limitar a transferência dos alunos da Escola Estadual Professor João Nogueira Lotufo em apenas uma possibilidade. Os estudantes terão a opção de escolha entre as escolas Professor Otto de Barros Vidal e Professor Júlio Cesar de Oliveira, ambas com Idesp acima da meta em 2014 – 5,23 e 5,54 respectivamente, como foi informado ontem ao [jornal] "Agora". No dia 14 de novembro, a comunidade escolar será informada quais unidades poderão receber os alunos. Ainda assim, se houver qualquer necessidade, os pais poderão solicitar a intenção de transferência para outras escolas próximas. A Secretaria esclarece ainda que utilizou-se de georreferenciamento, sistema já antes utilizado na rede, para que fosse respeitado o critério de deslocamento de, no máximo, 1,5 km de distância entre a atual escola e a unidade que receberá os alunos no próximo ano.
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo