Ao contrário da rede estadual, que vai separar alunos, ideia é aproveitar experiência dos mais velhos para ajudar mais novos.
Por Luiz Fernando Toledo
Enquanto a rede estadual de São Paulo prepara uma reformulação em suas escolas para separar os ciclos (anos iniciais do ensino fundamental, anos finais e médio) em unidades diferentes, alguns colégios privados de São Paulo aproveitam a diferença entre as idades para promover atividades pedagógicas de interação. A estratégia, explicam seus defensores, aproxima os estudantes e diminui o receio dos mais novos sobre as próximas etapas que terão pela frente.
No Colégio Equipe, em Higienópolis, região central da capital, há dois projetos. Todos os anos, estudantes participam de uma olimpíada esportiva que envolve todas as séries, da educação infantil aos anos finais do fundamental (do 6.º ao 9.º). “Eles formam equipes com alunos de todas as idades. É preciso usar um pouco a criatividade, mas o resultado é uma interação muito boa”, afirma a diretora, Luciana Fevorini.
As atividades envolvem desde cabo de guerra a jogos de tabuleiros, como damas, com equipes de alunos de idades diferentes. O colégio também investe em um projeto de tutoria que envolve estudantes do ensino médio e do fundamental. Os mais velhos ajudam os mais novos em atividades acadêmicas, como, por exemplo, em viagens para outras cidades como parte das disciplinas de História e Geografia. Os alunos do ensino médio, de maneira voluntária, passam até por um treinamento específico para ajudar os pequenos.
Ivan Kuvasney Lima, de 17 anos, do 3.º ano do ensino médio, conta que a interação trouxe mais amizades e evolução pessoal. Ele já foi monitor de alunos do 6.º e 9.º anos em viagens. Em uma delas, para Santos, os colegas pesquisaram informações sobre o mar. “Ajudamos com as dúvidas que eles têm e para que entreguem a apostila com todos os exercícios feitos.” Os encontros também servem para esclarecer inseguranças sobre o futuro na escola. “Eles perguntam sobre as diferenças nas aulas, o que muda no ensino médio. Querem saber se é mais puxado”, diz ele.
A integração entre alunos de idades diferentes também ajuda a resolver conflitos entre eles. Estudantes do 3.º ano do ensino fundamental reclamavam constantemente que colegas do ensino médio fumavam na frente do colégio, assunto levado à direção. “Promovemos o diálogo entre eles e deu certo. Depois disso, uma aluna do terceiro (do ensino médio) conversou com os colegas de sala e pediu que não fumassem mais na entrada”, conta Luciana.
Cartas
Na Escola Móbile, em Moema, zona sul de São Paulo, há atividades de monitoria e também uma troca de correspondência entre os estudantes. No fim do 3.º ano do médio, todos são convidados a escrever cartas para as crianças do 1.º ano do fundamental. Os prédios são separados e como o recreio ocorre em horários diferentes por ciclo, a prática faz com que eles se conheçam.
“Cada um conta um pouco de sua vida, os livros favoritos, as músicas. Existe algo em comum para as duas turmas: ambos estão em fase de transição. Alguns estão indo para a universidade, outros para o novo prédio do fundamental. É um momento para dividirem as ansiedades”, explica a diretora de educação infantil no Móbile, Maria de Remédios Cardoso. Depois da troca de mensagens, os estudantes participam de um encontro no fim do ano. Neste dia, os mais velhos apresentam o prédio aos colegas.
"Achei que os alunos mais novos iam dar trabalho, mas eles se comportam bem. É legal ensinar para ver o quanto já aprendemos", afirma a aluna Ana Moioli.
Na disciplina de Ética – uma das optativas que eles podem fazer no ano –, o trabalho final para alunos do 3.º ano do ensino médio consiste em elaborar e ministrar aulas sobre um tema específico para o 6.º e 9.º anos do fundamental. Neste ano, o foco foram as pequenas corrupções, como colar em provas e copiar trabalhos.
Daniela Taouil, de 17 anos, aluna do 3.º ano do médio, participou da preparação de conteúdo e ministrou três aulas. “Descobrimos que no fundamental os alunos já têm ideias muito boas. É uma oportunidade para ouvir opiniões diferentes”, afirma.
Matéria originalmente publicada no jornal O Estado de S. Paulo