Promotoria pedirá esclarecimentos à Sabesp e gestão Alckmin sobre Billings

POR FABRÍCIO LOBEL, DE SÃO PAULO – Folha de S. Paulo

O Ministério Público Estadual pedirá esclarecimentos à gestão Geraldo Alckmin (PSDB) e à Sabesp sobre a captação além do estabelecido em norma pelo DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica).

Nesta quinta-feira (12), a Folha mostrou que uma portaria do DAEE impõe limite de 2.190 litros de água por segundo na média anual que a Sabesp pode retirar da Billings para transferir ao sistema Guarapiranga, que abastece mais de 5 milhões de pessoas. Mas, desde janeiro, a empresa tem captado 40% a mais -em torno de 3.800 litros de água por segundo.

A Sabesp argumenta que ofícios trocado com o DAEE a autorizam a captar mais água, mesmo que esta carta não tenha sido publicada em Diário Oficial e não tenha prazo de vigência claro. Ainda assim, a Sabesp suspendeu pela primeira vez no ano a captação no Taquacetuba.

Segundo o promotor Marcos Lúcio Barreto, que investiga a qualidade de água distribuída na Grande São Paulo, ele questionará quais foram os procedimentos legais que permitiram que a Sabesp praticamente dobrasse sua captação no córrego Taquacetuba, da Billings.

"Evidentemente é muito estranho [que uma portaria publicada no Diário Oficial tenha sido suspensa por meio de uma carta]. Por isso queremos saber de que maneira isso se deu e qual a regularidade disso", diz ele. "Ao mesmo tempo, vou questionar se a qualidade da água foi afetada pela captação".

Segundo especialistas, com um aumento desmedido da captação, cresce também o risco de parte do corpo poluído da Billings seja bombeado para a Guarapiranga.

Principal produtora de água após a crise hídrica, a represa Guarapiranga abastece hoje as torneiras de bairros das zonas sul, oeste e centro -parte dos quais antes servidos pelo Cantareira, que esteve à beira de um colapso.

"O risco é de que a água poluída do corpo principal da Billings seja arrastada e captada pelas bombas", diz Carlos Bocuhy, ambientalista.

"Se houver bombeamento maior do que a capacidade de recomposição de água no braço em questão, poderá haver entrada de água de pior qualidade [vinda do centro da represa]", afirma Carlos Tucci, hidrólogo da Universidade Federal do RS.

Matéria publicada originalmente na Folha de S. Paulo.
 

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