Projeto foi enviado à Câmara perto do fim do mandato e integra o Arco do Futuro, para transformar as áreas ao longo dos rios.
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), pediu autorização à Câmara Municipal para abrir duas novas avenidas na capital, que juntas teriam mais de 34 quilômetros. Elas serviriam como paralelas à Marginal do Tietê, em ambos os lados do rio, desafogando a via expressa e proporcionando novos acessos aos bairros do chamado Arco Tietê, que reúne trechos das zonas norte, leste e oeste. Se fossem construídas hoje, custariam cerca de R$ 2 bilhões.
O resgate do projeto, previsto em planos urbanísticos elaborados nas últimas quatro décadas, aconteceu ainda na campanha eleitoral. Em 2012, Haddad prometeu construir as duas vias, chamadas de Apoios Norte e Sul, mas, ao longo do governo, o tema acabou esquecido. Agora, no último ano de mandato e durante a atual crise econômica, a proposta inclui parceria com a iniciativa privada e prazo de conclusão estimado em ao menos 20 anos.
O primeiro passo, explica o secretário municipal de Desenvolvimento Urbano, Fernando de Mello Franco, é aprovar o plano de melhoramento viário previsto para a região que sofrerá a intervenção. É o que prevê o projeto de lei em análise pelos vereadores. Para abrir as avenidas, 48 km de vias já existentes precisarão ser remodelados.
A Avenida Nossa Senhora do Ó, no Limão, zona norte, serve de exemplo. Se sair do papel, o Apoio Norte transformará a via, que passará a contar com três faixas em cada sentido, corredor exclusivo de ônibus no centro e ciclovias nas laterais. A avenida é paralela ao linhão da Eletropaulo, faixa de transmissão de energia que precisaria ter a fiação enterrada.
Segundo cálculos da secretaria, a área por onde se desloca o linhão representa 42% do terreno necessário para a construção da avenida. Mas, por enquanto, não há acordo entre Prefeitura e AES Eletropaulo para o enterramento dos fios.
Apoio Norte
Com o Apoio Norte, a Vila Leopoldina, na zona oeste, seria ligada ao Tatuapé, na leste, em um percurso de 24,5 km. O trajeto prevê viadutos sobre a Marginal e a Rodovia dos Bandeirantes, além de um túnel sob a Via Anhanguera. “Mas sem acesso às rodovias, para que a avenida não se torne um Rodoanel”, ressalta Franco.
De acordo com o secretário, o Apoio Norte é um projeto de mobilidade, mas também de cidade. “Ele é peça fundamental dentro do Arco do Futuro (projeto urbanístico de Haddad que visa a transformar as áreas ao longo dos rios) para o desenvolvimento de São Paulo. Funcionaria como um novo eixo metropolitano, assim como é hoje o corredor da Faria Lima para a Marginal do Pinheiros”, explica.
Quando pronta, a obra facilitaria o trajeto entre os bairros e, consequentemente, reduziria a dependência dos motoristas em relação à Marginal do Tietê. “É o que precisamos na zona norte. O trânsito na nossa região está muito tumultuado, e em qualquer hora do dia”, diz Maria Luiza Pinto, de 74 anos, que trabalha no Limão.
Apoio Sul
Do lado oposto do Rio Tietê, o Apoio Sul teria 9,8 km e ligaria as Avenidas Santos Dumont e Aricanduva, a partir do prolongamento das Avenidas Ermano Marchetti e Marquês de São Vicente, no sentido zona leste. O trajeto proposto passa pelos bairros Armênia, Bom Retiro, Canindé, Pari, Belém e Tatuapé, já no cruzamento com a Avenida Celso Garcia. Assim como o projeto do Apoio Norte, o corredor sul usaria avenidas existentes no percurso e remodelaria vias adjacentes em toda a sua extensão.
Para tornar viável projeto tão ambicioso e de longo prazo, a gestão Haddad pretende lançar mão de modelos privados de gestão, como concessões e parcerias público-privadas (PPPs). Segundo Franco, a reserva de terras ao longo de ambos os apoios seria o atrativo do negócio. O vencedor de uma futura licitação poderia, por exemplo, comercializar áreas ao redor das novas avenidas para uso residencial ou comercial.
Desapropriações
O projeto de lei enviado à Câmara Municipal não revela o número de desapropriações que seriam necessárias para a construção dos Apoios Norte e Sul. Segundo o secretário de Desenvolvimento Urbano, Fernando de Mello Franco, pela dificuldade no processo de obtenção de terras, a ideia é começar a obra justamente nos trechos onde passam as torres da AES Eletropaulo. Isso caso a iniciativa privada tenha interesse na proposta, já que teria de arcar com os custos do enterramento dos fios.
Quem mora na região revela preocupação. “É claro que uma nova avenida facilitaria a nossa vida, mas quanto pagariam pelas nossas casas?”, pergunta o motorista Marcos Paulo de Lima, de 40 anos, que mora no Jaraguá. No bairro da Casa Verde, as torres de transmissão de energia passam por ruas estreitas, coladas a imóveis residenciais e estabelecimentos comerciais, como supermercados. “Todo mundo vai ter de sair? E como é que vão construir uma obra desse porte nessa crise?”, questiona Lima.
A Secretaria de Desenvolvimento Urbano informou que a área prevista para a instalação das avenidas é de 1,2 milhão de metros quadrados e inclui terras públicas e privadas.
Matéria originalmente publicada no jornal O Estado de S. Paulo