Para botânico, cultura ‘antiárvore’ ainda predomina em SP

POR ANDREA VIALLI – COLABORAÇÃO PARA A FOLHA DE S. PAULO

A cidade com ar puro, rios limpos e ruas arborizadas ainda vai ficar nos sonhos do paulistano por algumas décadas. Mas a boa notícia é que São Paulo tem condições de aprimorar seus indicadores ambientais e de qualidade de vida nos próximos 20 anos.

Para isso, é preciso acelerar projetos e fazer cumprir leis que já existem.

Um exemplo está na área de mudança do clima. Desde 2009 São Paulo tinha em lei a meta de reduzir em 30% as emissões de gases de efeito estufa do município até 2012. Foi atropelada: de 2003 a 2011 (último dado disponível), as emissões não só não caíram como subiram quase 6%, em especial por carros e ônibus.

A prevalência do uso do carro ainda é o que mais contribui para esse atraso. "Vivemos uma dupla crise: a mobilidade em São Paulo não melhorou, e as emissões continuam crescendo", diz André Ferreira, diretor do Iema (Instituto de Energia e Meio Ambiente), que faz parte da rede Observatório do Clima. "O enfrentamento das mudanças climáticas ainda esbarra na falta de disposição em reduzir o uso do carro."

Enquanto os ônibus lançam na atmosfera cerca de 1 milhão de toneladas de carbono todo ano, os automóveis particulares emitem o triplo disso, explica Ferreira.

Para Oded Grajew, coordenador da Rede Nossa São Paulo, é preciso haver uma ação que integre medidas em mobilidade, saúde e áreas verdes. "São Paulo continua com recorde de internações hospitalares em razão da má qualidade do ar, tem déficit de espaços verdes por habitante e descontinuou a inspeção veicular", diz Grajew. "Melhorar os indicadores ambientais depende de dar prioridade a esses temas."

As áreas verdes carecem de um projeto detalhado para as próximas duas décadas. No curto prazo, o plano 2013-2016 da prefeitura prevê plantio de 900 mil mudas. Desse total, 296 mil foram plantadas, segundo a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente.

Para o botânico Ricardo Cardim, especialista em arborização urbana, São Paulo ainda vive uma cultura "antiárvore", presente em quem vê progresso em cimentar o quintal e reforçada pelo poder público. "É o pensamento de que árvores sujam a rua e causam problemas."

Mas já é possível detectar uma percepção mais sensível dos jovens, diz a arquiteta e urbanista Adriana Levisky. 

Matéria publicada originalmente na Folha de S. Paulo.

 

Compartilhe este artigo