SP 462 anos – Ações individuais por uma SP verde

Mudanças no modo de vida da cidade se devem mais aos esforços da população do que necessariamente a uma gestão pública voltada para a sustentabilidade, dizem especialistas.

Por Giovana Girardi, de O Estado de São Paulo – caderno SP 462 

Há quem diga que viver em São Paulo é para os fortes, os que moram em condomínios fechados e os que têm carro. Que em São Paulo se trabalha demais e que a cidade nunca para. Um monte de clichês, verdade, embora não sem uma ponta de razão. Mas há uma São Paulo que quer ser diferente. Tem ganhado força nos últimos anos um movimento que busca ocupar os espaços públicos de modo a deixar a cidade mais amigável, com maior qualidade de vida e, por que não, mais sustentável.

Isso tem a ver com hortas urbanas, food parks, ocupação de ruas, praças e a luta por parques urbanos. Tem a ver com ciclovias, transporte público e com a criação de espaços compartilhados. E com muitas iniciativas pessoais que vêm buscando adotar uma vida que proteja o ambiente (como as que aparecem ao longo deste especial).

"Se olharmos sustentabilidade de uma forma ampliada, que vai além do ambiente, mas que cuida da mobilidade urbana, da cidadania, tem ocorrido um avanço enorme no comportamento médio do cidadão paulistano", afirma André Palhano, coordenador da Virada Sustentável e blogueiro do estadão.com.br. "Temos uma geração que eu chamo de 'protótipo', que faz as coisas, como a criação de hortas urbanas ou a Praça da Nascente, na Avenida Pompeia (na zona oeste, que foi recuperada por moradores)", exemplifica.

A própria evolução da Virada Sustentável em São Paulo dá uma noção de como tem crescido o interesse da população nesse sentido. Na inauguração, em 2013, eram 350 projetos. No ano passado, já passavam de 2 mil. Para Palhano, a crise hídrica que atingiu a cidade no último verão também deu uma chacoalhada na população. "Fomos forçados a conviver de uma forma diferente com os recursos e isso mudou, espero que para sempre, nossa relação com a água."

Especialistas ouvidos pelo Estado opinam que muitas das mudanças se devem mais aos esforços da população do que necessariamente a uma gestão pública voltada para sustentabilidade, mas não descartam que ações como a abertura da Paulista para pedestres e a criação de ciclovias incentivam e facilitam o comportamento dos moradores. "A questão da mobilidade em muitos aspectos é a mais importante para o paulistano, porque afeta a produtividade, o bem-estar. Até mais que a poluição, ela causa estresse. Então, nesse aspecto, houve avanços", diz Laura Valente, consultora em mudanças climáticas e cidades do World Resources Institute.

Mauricio Broinizi, coordenador executivo da Rede Nossa São Paulo, também elogia os investimentos públicos em mobilidade urbana e em coleta seletiva e reciclagem. "Mas para caminhar para a sustentabilidade a passos largos ainda falta muito. Ainda não se avançou em ter uma política de arborização consistente. A defesa de mananciais e da Mata Atlântica continua complicada."

Mesmo a questão da mobilidade ainda precisa melhorar, defendem os especialistas. "Hoje temos um grande número de pessoas pensando em como melhorar a cidade, mas isso só vai acontecer no momento em que for uma cidade melhor para o pedestre. Porque todo mundo, mesmo quem tem carro, é pedestre", defende o ambientalista Lincoln Paiva, presidente do Instituto Mobilidade Verde, que desenvolveu os parklets. "Sem devolver a cidade para o pedestre não é possível ter melhor qualidade de vida." 

Matéria publicada originalmente no jornal O Estado de S. Paulo.
 

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