POR EDUARDO GERAQUE E FABRÍCIO LOBEL – FOLHA DE S. PAULO
Nos dois últimos anos, 24 dos 96 distritos da capital paulista registraram dados epidêmicos de dengue. O cenário tende a se repetir mais uma vez nos próximos meses. Em locais como Rio Pequeno (na zona oeste) e Brasilândia (zona norte), a epidemia de dengue tem virado rotina a cada fim de verão.
No ano passado, os casos da doença chegaram a 1.958 e a 3.600, respectivamente nos dois distritos, a cada 100 mil habitantes. Para se ter uma ideia, quando há mais de 300 casos por 100 mil habitantes em uma região, o quadro é considerado como de epidemia.
Para tentar ganhar a guerra contra o mosquito da dengue, o secretário municipal Alexandre Padilha (Saúde) afirma que os técnicos da capital estão usando como base o mapa da doença feito em anos anteriores, uma medida considerada importante pelos especialistas.
O plano é visitar quem teve dengue no passado para saber se, agora, eles estão mais preocupados e atentos para evitar o acúmulo de água dentro de casa. Estudos mostram que o Aedes aegypti costuma voar até 200 metros do local onde nasceu. A maioria dos criadouros, que podem ser até tampas de garrafa, está no quintal.
"As ações estão concentradas nas áreas onde as pessoas tiveram dengue em São Paulo. O problema é que estamos encontrando mais de um reservatório potencial do mosquito por casa. Mesmo quem teve caso grave, ficou internado, tinha reservatórios [e potenciais focos do aedes] em casa", diz Padilha.
SEM VISITAS
Basta uma visita de poucas horas tanto na Brasilândia quanto no Rio Pequeno para perceber que a ação da prefeitura, mesmo correta, pode até ganhar algumas batalhas, mas não deve vencer a guerra contra a dengue.
É fácil encontrar pessoas que tiveram a doença e por enquanto não viram nenhum agente da prefeitura neste ano. Lixo, entulho e água parada também estão espalhados pelas ruas e avenidas.
Abigail Arruda, 57, moradora da Brasilândia, relata que todo mundo teve dengue por lá no ano passado. "A gente toma conta dos vasinhos e das plantas, mas nesse ano a prefeitura ainda não passou na rua", conta.
No Rio Pequeno, ao menos seis vizinhos da mesma rua pegaram dengue nos anos anteriores. "No ano passado até teve aquele fumacê. Mas, neste ano, ninguém da prefeitura passou ainda não", diz uma moradora, que pediu para não ter o nome divulgado.
João Bispo, que também mora no Rio Pequeno e teve a mãe doente no ano passado, desconhece qualquer ação da prefeitura nas ruas do bairro este ano. Há pessoas que também assumem parte da culpa pelas epidemias recorrentes de dengue na cidade de São Paulo, que neste ano deve ser agravada pela chegada da zika e chikungunya, doenças também transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti.
"O problema não é tanto o governo. O problema está na educação do povo em geral. Todo mundo acha que é imune até acontecer com alguém da família, como aconteceu comigo", opina o designer Gilmar Maciel, 37, morador da Brasilândia e que teve dengue em 2015.
Outro morador da zona norte, Edson Santos, 28, relata que equipes da prefeitura chegaram a passar em sua rua. "Mas tem casa em que a prefeitura não consegue entrar. As pessoas têm medo de que não seja um agente de saúde, ou de ter de pagar alguma multa", afirma.
Matéria publicada originalmente na Folha de S. Paulo.