POR ANDRÉ MONTEIRO E RODRIGO RUSSO – FOLHA DE S. PAULO
As multas por avanço do semáforo vermelho aplicadas por radares explodiram de janeiro a novembro de 2015 na cidade de São Paulo.
Levantamento feito pela Folha mostra que houve aumento de 798% na comparação com igual período de 2014. Foram 225 mil multas flagradas via fiscalização eletrônica no ano passado, segundo dados divulgados pela prefeitura –ainda não foram disponibilizadas as informações de dezembro. Em 2014, foram apenas 25 mil infrações nesse mesmo período.
Trata-se do maior crescimento percentual dentre as dez multas mais aplicadas no município. O aumento médio, considerando todas as infrações de trânsito, foi de 40%.
Se consideradas não só os flagrantes de equipamentos eletrônicos, mas também de agentes de trânsito, as multas por avanço do sinal vermelho já são a sexta mais aplicada, com 390 mil registros.
MADRUGADA
A disparada das autuações está ligada tanto ao aumento de radares como ao avanço da tecnologia dos aparelhos, que hoje flagram quem desrespeita os semáforos inclusive à noite e de madrugada.
"Tomei uma multa à 1h da madrugada. Não tinha como parar uma hora dessas", diz Lindomar Castilho da Silva, 39, flagrado no vermelho na avenida das Juntas Provisórias, no Ipiranga (zona sul). "Tem muito radar na cidade. Todo mês é uma multa", diz.
"Sou um motorista que respeita as normas. Mas confesso que, de madrugada, paro, dou uma olhada para evitar acidente e passo. Melhor pagar multa do que perder meu carro num assalto", afirma Aureliano Bordinhon, 72, representante comercial, morador da Mooca (zona leste) e que não é multado há 15 anos.
Segundo a CET, companhia de tráfego da gestão Fernando Haddad (PT), antes de março de 2014, os equipamentos registravam infrações por meio de câmeras fotográficas, e as imagens das autuações eram reveladas para efeito de prova. A fiscalização noturna ficava comprometida pela baixa iluminação.
Naquele ano, passaram a ser instalados equipamentos com tecnologia on-line para capturar invasões indevidas de semáforos: as imagens chegam em tempo real, inclusive de madrugada, para um centro de análise, que digitaliza e encaminha os flagras para validação do departamento adequado da companhia.
Em anos anteriores, a CET até chegou a testar radares que captavam avanço noturno de semáforo, mas não eram todos, só uma minoria.
Hoje, dos 925 locais de fiscalização de todos os tipos de infração de trânsito (incluindo velocidade e rodízio, por exemplo), 169 estão aptos para a fiscalização do semáforo –e com a nova tecnologia.
O avanço do sinal é uma infração considerada gravíssima (multa de R$ 191,54 e perda de sete pontos na CNH). Em caso de pane nos semáforos, os radares ficam simultaneamente inoperantes, impedindo que condutores sejam multados injustamente, segundo a gestão Haddad.
Mestre em transportes pela USP, Horácio Figueira avalia que as multas por avanço do sinal ainda são poucas diante do total de infrações cometidas impunemente. "Lamento que as pessoas coloquem em risco a vida dos pedestres e de outros condutores."
O urbanista Flamínio Fichmann, especialista em trânsito, critica a disparada de multas por considerar que a fiscalização é "ampliada apenas objetivando maior arrecadação". "Os tempos de espera nos semáforos são elevados", diz ele, para quem isso incentiva a desobediência.
Para a CET, os equipamentos colaboram de forma substancial para a conscientização dos cidadãos no trânsito.
Colaborou LEANDRO MACHADO
Matéria publicada originalmente na Folha de S. Paulo.