ANDRÉ MONTEIRO E RODRIGO RUSSO – FOLHA DE S. PAULO
Um levantamento inédito da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) aponta que 85% dos veículos envolvidos em acidentes fatais na cidade de São Paulo já haviam sido multados.
Desse universo, cerca de dois terços foram punidos por excesso de velocidade ou desrespeito ao sinal vermelho –multas gravíssimas e que põem em risco a vida de quem está ao redor do veículo, como pedestres e outros carros.
A pesquisa, recém-concluída, cruzou informações de 194 relatórios de acidentes com pelo menos uma morte em São Paulo entre janeiro de 2014 e outubro de 2015. Em seguida, os técnicos buscaram os históricos das multas relacionadas aos veículos até a data em que se envolveram nas ocorrências.
Foram 2.547 infrações de trânsito ligadas a esses carros, ônibus, motos e caminhões. Desse número, 1.618 multas foram aplicadas quando os veículos estavam em movimento, categoria em que se enquadram as infrações consideradas mais graves para a segurança viária.
Um dos limites da pesquisa é que as autuações estão relacionadas ao veículo, e não ao condutor que dirigia na hora do acidente. O levantamento também não se restringe ao último proprietário dos automóveis, tornando mais difícil atribuir a responsabilidade exata dos motoristas.
CRÍTICAS
O levantamento da CET mapeou 208 mortos nesses acidentes, entre condutores, passageiros e pedestres. Das colisões fatais no período, 42% ocorreram às sextas-feiras e sábados. Já em relação aos atropelamentos, notou-se que foram mais frequentes nos horários das 6h às 9h e das 19h às 23h.
Esse novo relatório da CET deve ser usado pela gestão Fernando Haddad (PT) como argumento para contestar as críticas de que sua administração tem produzido uma "indústria da multa", com redução de limites de velocidade, aumento de radares e da receita com as infrações. De janeiro a novembro de 2015, a prefeitura multou 40% a mais do que em igual período de 2014. A arrecadação, por sua vez, subiu 13%.
Haddad nega visar aumento de receita com as multas, diz que a quantidade de vítimas caiu e que há uma "indústria da morte", com poucos motoristas cometendo muitas infrações: só 31% da frota paulistana foi autuada em 2015, segundo números do Painel Mobilidade Segura.
Matéria publicada originalmente na Folha de S. Paulo.