Em um ano, das mais de 246 mil multas do tipo, cerca de 185 mil foram registradas à noite
Do R7
A Prefeitura de São Paulo contabilizou 246.453 multas em 2015 somente por avanço do sinal vermelho (por fiscalização eletrônica). O desrespeito ao semáforo, no entanto, é expressivamente maior de madrugada do que no período da manhã na cidade de São Paulo. De acordo com dados do portal Mobilidade Segura, o número de multas durante a noite, no ano passado, foi três vezes maior do que durante o dia — entre 21h e 5h foram aplicadas 185.373 multas enquanto das 6h às 20h o número fica em 61.080.
O problema não é novo e os números só cresceram nos últimos anos. Em 2013, entre 21h e 5h, as multas ficaram em 8.609, passaram para 27.485 em 2014 e saltaram para mais de 185 mil em 2015 e muitos motoristas que circulam de madrugada pela capital não respeitam o sinal vermelho com receio de assaltos ou abordagens nos semáforos. Para Sergio Ejzenberg, consultor de trânsito e engenheiro mestre em transportes pela USP, as multas nesse horário são, em grande parte, conscientes e cometidas por insegurança.
— As pessoas passam no vermelho por falta de segurança pública. As pessoas não são suicidas. As pessoas têm medo.
Por outro lado, mesmo com fluxo menor de veículos e de pedestres, neste horário há também registro de acidentes graves e atropelamentos. Assim, para garantir a segurança dos motoristas e dos pedestres, especialistas sugerem alternativas que podem ser mais eficazes do que os radares — constantemente desrespeitados e responsáveis por milhares de multas que poderiam ser evitadas. Luiz Célio Bottura, consultor de engenharia urbana, acredita que o uso de amarelo piscante nos semáforos já ajudaria.
— Eu mesmo também não paro em alguns a noite porque não há segurança para parar. O que deveria acontecer com mais intensidade é o amarelo piscante.
Bottura defende a fiscalização, mas alerta para a falta de flexibilidade em alguns casos.
— Acontece que a lei é cega. Ela regula um semáforo para abrir e fechar e a pessoa passa no vermelho e o radar registra. Com o amarelo piscante isso não aconteceria. E cabe aos motoristas saber usar o amarelo piscante que quer dizer “vá com atenção”.
Sergio Ejzenberg também defende que os semáforos funcionem de outra forma no período da madrugada para reduzir o número de multas causadas pela insegurança dos motoristas nos cruzamentos.
— A prefeitura arrecada milhões com multa e não tem semáforo inteligente, não arruma os semáforos. Com sistema inteligente, eles detectam a aproximação dos carros e liberam o verde. Tem que fiscalizar, mas a técnica está errada. Não tem sentido fiscalizar de madrugada sem [que os semáforos] funcionem direito.
Para Sérgio, esse tipo de sistema ajudaria também no trânsito em outros horários.
— Durante o dia conseguem trazer uma melhoria de 20% no congestionamento e de noite ele minimizam a espera, dando mais segurança. Não tem porque não implantar.
Mauricio Broinizi, coordenador executivo da Rede Nossa São Paulo, acredita que o horário não é tão tranquilo assim para deixar todos os semáforos em amarelo piscante, mas concorda com mudanças.
— Como medida paliativa você pode colocar o amarelo piscante de madrugada para cruzamentos que não são perigosos e mantém o radar nos pontos mais movimentados, mesmo de madrugada.
Para Broinizi é importante dar atenção ao horário.
— Entre 22h e 6h são os acidentes mais fatais porque as pessoas correm mais e respeitam menos o semáforo, mas acho que hoje tem instrumentos para flexibilizar algumas situações.
Outra alternativa sugerida pelo coordenador é a implantação de um sistema de registro para informar infrações cometidas e justifica-las.
— Poderia ter um canal para uma espécie de boletim de ocorrência, de registro para dizer que precisou passar no semáforo vermelho por causa de uma situação suspeita. Mas é óbvio que não é para abusar. As pessoas precisam encarar o transito com gravidade, que é sério.
A multa por avançar o sinal vermelho é gravíssima, custa R$ 191,54 e o motorista perde sete pontos na carteira de habilitação. Em três anos, foram 304.045 infrações do tipo (registradas por fiscalização eletrônica) na cidade.
Sobre o aumento do número de multas na capita, a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) informou, em nota, que isso "ocorre porque houve um aumento na fiscalização do trânsito e de desrespeito dos condutores às leis de trânsito. Pesquisa recente mostrou que a maioria dos acidentes foi provocada ou teve a participação de motoristas habitualmente multados por excesso de velocidade ou por avançar o sinal vermelho".
Matéria publicada originalmente no portal R7 Notícias.