EDUARDO GERAQUE – FOLHA DE S. PAULO
A Cidade Universitária da USP, na zona oeste, foi, pelo segundo ano consecutivo, a área mais poluída da região metropolitana de São Paulo dentre as 21 estações em que há monitoramento do ar pela agência ambiental paulista.
Esse quadro, que impacta a saúde das pessoas que frequentam a região, como estudantes e esportistas, está ligado ao ozônio, poluente que se forma a partir da reação química principalmente entre os gases emitidos pelos automóveis e a luz solar. Embora a Cidade Universitária não tenha concentração atípica de veículos, é possível que os ventos sejam responsáveis pelo deslocamento dos poluentes da vizinhança.
O padrão seguro de ozônio, de 140 microgramas por metro cúbico em oito horas, foi ultrapassado em 26 dias no campus da USP no ano passado inteiro. No ano anterior, esse mesmo padrão deixou de ser seguido em 35 dias.
"Esse nível de ultrapassagem dos padrões diários é muito alto", afirma Paulo Artaxo, que é físico, especialista em poluição urbana do ar e pesquisador da USP. O padrão da poluição para ozônio, segundo ele, "não deveria ser ultrapassado mais do que um dia por ano", de acordo com normas internacionais da OMS (Organização Mundial da Saúde).
INSPEÇÃO
Considerando todas as 21 estações da Cetesb na Grande São Paulo, houve 36 dias com ozônio acima do padrão aceitável em 2015, contra 43 dias em 2014.
Se, em termos gerais, a poluição foi um pouco melhor do que no ano retrasado, ela esteve em concentrações muito piores do que as registradas em 2013, quando a situação esteve crítica em somente 13 dias do ano.
O gás formado principalmente pela poluição oriunda dos combustíveis fósseis (usados por carros, motos, ônibus e caminhões) é o que mais está contaminando o ar da região metropolitana. "Os valores médios de ozônio em São Paulo são muito altos e estão crescendo ao longo dos últimos dez anos. Precisamos de uma estratégia para lidar com isso", afirma Artaxo.
Uma das medidas defendidas por especialistas para combate ao ozônio é a inspeção veicular obrigatória, implantada na gestão Gilberto Kassab (PSD) e suspensa por Fernando Haddad (PT). A expansão mais rápida da rede de metrô, gerenciada pelo governo do Estado, também é motivo de cobrança, para incentivar a substituição de viagens de carros por um transporte menos poluente.
VENTO
A estação da Cetesb para medir a poluição do ar na região da USP fica perto do prédio do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares. Cabe à agência do governo Geraldo Alckmin (PSDB) compilar os dados das medições feitas no Estado inteiro.
Em 2015, na capital paulista, além da Cidade Universitária da USP, a situação foi crítica nas estações do parque Ibirapuera e de Interlagos, também em razão do ozônio. Os pesquisadores que estudam esse problema não têm uma explicação definitiva para justificar as altas concentrações do poluente nos últimos dois anos no campus.
Mas uma das hipóteses cogitadas por técnicos da Cetesb está relacionada ao padrão de ventos que existe naquela região da cidade. Como a USP não tem um trânsito muito intenso em relação a outras áreas, é provável que o ozônio medido lá seja empurrado pelos ventos de outras partes da capital.
O ozônio, em altas concentrações, pode ser tóxico. Acima do limite de segurança, ele afeta toda a população, podendo provocar cansaço e ardência nos olhos.
Matéria publicada originalmente na Folha de S. Paulo.