‘Estado’ obteve distribuição do efetivo e comparou com o total de homicídios, latrocínios, estupros e roubos em 2015; nenhum dos dez batalhões com mais registros está na lista de áreas com mais agentes por delito. Secretaria diz ter critérios diversos
Bruno Ribeiro – O Estado de S. Paulo
As regiões mais inseguras de São Paulo, que concentram registros de crimes violentos, têm proporcionalmente menos policiais militares para combater esses crimes do que as áreas menos violentas da capital. O desequilíbrio na distribuição do efetivo, segundo especialistas, sobrecarrega parte dos PMs e torna o enfrentamento da criminalidade ineficiente.
A Secretaria Estadual da Segurança Pública reconhece, em nota, que a quantidade de crimes de cada área é um “critério importante” para a distribuição do efetivo. Mas informa que este não é o único, importando também a população de cada área e outras particularidades.
Depois de quase dois anos de pedidos por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), o Estado obteve informações sobre a distribuição territorial dos policiais e comparou os dados com o total de crimes violentos (homicídio, latrocínio, estupro e todos os tipos de roubo) ocorridos em 2015. Feita a proporção, os bairros periféricos se mostraram com menos PMs por crime. As regiões com mais policiais por crime têm, também, Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais elevados.
Por exemplo: no batalhão responsável pelo Campo Limpo, zona sul, região mais violenta da capital, cada policial deve cuidar de duas vezes mais crimes violentos do que no batalhão dos Jardins, na zona sul. No Campo Limpo, são 14,4 registros de casos em 2015 para cada PM da área. Nos Jardins, são 7,81. Como se tratam de crimes violentos – no qual o despacho de viatura para o local é prioritário –, a sobrecarga do PM pode diminuir a capacidade de resposta aos bandidos.
Envolvidos em ocorrências violentas, os PMs acabam também fora de serviço, “presos” nas delegacias registrando as ocorrências, e deixando de atender os cidadãos. “Quando uma área tem suas viaturas em ocorrências, o comando termina por deslocar viaturas de outras áreas para cobrir a região”, explica o coronel da reserva Carlos Alberto Camargo, ex-comandante-geral da PM.
Divisões
Dos 10 batalhões com mais crimes violentos, 8 concentram, em números absolutos, o maior efetivo policial. Entretanto, feita a proporção de policial por crime, nenhum deles fica na lista das 10 áreas com mais policiais por delito.
Os números obtidos pelo Estado mostram ainda que entre as áreas com melhor IDH na cidade seis são atendidas pelos batalhões em que os policiais são menos atarefados com os crimes violentos. Esse é o caso de bairros como Jardins, Moema, Saúde e Santo Amaro (todos na zona sul), Santa Cecília (centro) e Tatuapé, na leste. Do lado inverso do ranking estão Campo Limpo, Cidade Ademar – ambos na zona sul –, Itaim Paulista e São Mateus, na leste.
O bairro com menos crimes violentos por policial é o do Horto Florestal (5,87 casos), na zona norte. É ali também que se concentram estruturas policiais como a Academia Militar do Barro Branco, que forma os oficiais da PM, e onde, historicamente, residem os coronéis da corporação. Já a região em que há mais crimes por policial é a do Butantã. “Esses dados só reforçam o que dizemos há anos, que as polícias são estruturadas para proteger o patrimônio da população de maior renda”, diz a cientista social Camila Caldeira Nunes Dias, da UFABC.
Os dados fornecidos pela PM não indicam o efetivo dos batalhões subdividido por companhia. Essa relação poderia evidenciar outras distorções. Um batalhão como o 23º Batalhão, cujos policiais têm de atender a 11,37 crimes violentos, é dividido em quatro companhias, cada uma delas atende a um bairro diferente. Só com a publicidade de seus efetivos seria possível verificar possíveis microdistorções em cada bairro.
Matéria publicada originalmente no jornal O Estado de S. Paulo.