FABIO PAGOTTO – FOLHA DE S. PAULO
As lotações clandestinas voltaram a circular na cidade de São Paulo. Elas operam na zona oeste da capital e disputam passageiros com ao menos quatro linhas de ônibus municipais. Os veículos atrapalham os ônibus, andando devagar diante deles. Com isso, o atraso chega a ser de 20 minutos, afirmam os motoristas dos coletivos.
A gestão Fernando Haddad (PT) afirmou que há vans operando com decisão da Justiça, mas não informou quantas. Também disse que faz fiscalizações para flagrar eventuais serviços ilegais. As empresas dizem que cabe à prefeitura coibir os clandestinos. Nesta terça (5), a reportagem viu 20 vans circulando; duas tinham um selo informando ter autorização judicial.
Os alvos das lotações irregulares são as linhas 8040-10 (Jardim Sol Nascente-Lapa), 8050/10 (Morro Doce-Lapa) e 8047-10 (Jaraguá-Lapa) e 128Y-10 (Jardim Peri Alto-Lapa). Os veículos, brancos e alguns com placas vermelhas, trazem luminosos com os números das linhas.
Na terça, reportagem andou em uma van da linha 8040-10 desde o ponto inicial, no Jaraguá. A passagem custava R$ 3,80, mas, sem troco, a cobradora aceitou R$ 3,50.
No trajeto, a reportagem constatou que a operação tartaruga acontece. Questionado, o motorista clandestino afirmou que "estava atrasando o oficial". A van sempre chegava aos pontos antes dos ônibus. Logo já estava quase lotada. Mesmo assim, circulou boa parte do trajeto com as portas abertas, por vezes em alta velocidade.
O veículo estava em más condições, com bancos quebrados e rasgados e sujo. No trajeto, o motorista largou o volante algumas vezes para consultar o celular –chegou a tirar as duas mãos da direção. Com a lotação cheia, ele acelerou o veículo, principalmente na rodovia Anhanguera. Após uma hora e 20 minutos, anunciou o ponto final: a rua 12 de Outubro. No embarque, havia dito que a viagem acabaria no Mercado da Lapa.
ÚLTIMO CASO
Os passageiros afirmam que usam as lotações clandestinas quando estão sem opção ou com pressa. "Só uso se for caso de urgência, é perigoso. Tive filho mês passado e durante a gravidez não usei por medo de acidentes", diz a vendedora Cláudia Alves, 37.
"Correm feito loucos, não respeitam lei de trânsito. Dá medo, só pego se estiver atrasada", afirma a secretária Lucimara Caetano, 30. "Brecam de qualquer jeito, não ligam se tem idoso ou criança. Acho perigoso. Uso só quando o ônibus está lotado", diz o auxiliar de limpeza Floriano Lourenço de Oliveira, 56.
AMEAÇAS
Os motoristas da Santa Brígida, que opera as linhas que sofrem a concorrência dos clandestinos, dizem que vivem uma rotina de medo e ameaças dos irregulares. Forçados a dirigir devagar, eles também recebem queixas. "Os passageiros reclamam, já houve até motorista agredido por causa da lentidão. E nem é nossa culpa", disse um condutor que pediu para não ser identificado.
"Não há fiscalização, então eles fazem o que querem. A orientação da empresa é para não reagir a provocações nem para tentar ultrapassar as lotações", falou um cobrador. A viação confirma a orientação.
PREFEITURA
A SPTrans (São Paulo Transportes), da gestão Fernando Haddad (PT), afirmou em nota que "vans operam na região da Lapa por decisão judicial e, por esse motivo, a SPTrans não pode apreendê-las". No entanto, não disse quantos veículos têm a autorização. Afirmou ainda que faz fiscalizações para detectar veículos irregulares. Em junho, diz, foram dez ações.
A Santa Brígida afirma que informa à SPTrans os problemas com os clandestinos. O SPUrbanuss (sindicato das viações) disse que não é atribuição das empresas coibir os clandestinos, e que os funcionários são orientados a evitar conflitos com os perueiros.
Matéria publicada na Folha de S. Paulo.