Moradores reclamam de drogas, e Haddad vai cercar praça do Pôr do Sol

ARTUR RODRIGUES – FOLHA DE S. PAULO

A pedido de moradores, a gestão Fernando Haddad (PT) desenvolverá um projeto para cercar a praça do Pôr do Sol, no Alto de Pinheiros (zona oeste de São Paulo).

O local atrai milhares de pessoas pela vista privilegiada do pôr do sol. No entanto, moradores do bairro reclamam que a alta frequência atrai comércio irregular de bebidas, usuários de drogas e acúmulo de lixo.

"Está cada vez pior. Mais gente, mais bagunça, mais barulho. Além dos drogados todos, há pessoas fazendo as necessidades fisiológicas nas portas das casas, fazendo sexo, se drogando, bebendo, vomitando", afirma a presidente da Associação dos Moradores do Alto de Pinheiros, Maria Helena Bueno, 73.

Há um ano, por pressão da vizinhança, um decreto transformou o local oficialmente em parque. A infraestrutura, porém, ainda não chegou.

Além do cercamento, o projeto em desenvolvimento por técnicos da prefeitura prevê administração e sanitários. "As edificações serão reduzidas ao mínimo indispensável, como administração e sanitários, com estrutura de containers, que são leves e fáceis de adaptar quando necessário", afirmou a gestão Haddad, em nota.

A ideia é não atrapalhar a vista e não interferir no projeto da arquiteta Miranda Martinelli Magnoli e da paisagista Rosa Kliass, da década de 1960.

ESTRUTURA

Morador da praça e presidente da Avisol (Associação dos Vizinhos da Praça do Pôr do Sol), José Ricardo Rezende, 53, afirma que a ideia não é restringir o uso. "É um lugar bonito e público. O que a gente quer é mais infraestrurura: banheiro, bebedouro, segurança", diz.

Segundo ele, o principal problema ocorre após o fechamento dos bares da Vila Madalena. O lugar virou o pós-balada da região, com som alto dos carros, vendedores ambulantes e pessoas urinando na frente das casas.

Por isso, diz ele, o ideal é que o parque funcionasse entre 6h e 22h. O horário de abertura e o cercamento, porém, ainda serão debatidos após a eleição do conselho gestor, formado pela sociedade civil e pelo poder público.

"Se não quiserem cercar, que deixem funcionários 24 horas. Mas os recursos do poder público são limitados."

LUAU

A Folha esteve no local durante a noite. Vários camelôs oferecem cerveja e vinho, enquanto jovens fazem luaus e fumam maconha. "Se fecharem, vai prejudicar muita gente que trabalha aqui", afirma a vendedora ambulante Juliane Lopes, 30. "Além disso, com esse calor, onde todo esse pessoal vai poder beber uma cerveja?", diz ela, que vende Skol, Heineken e Stella Artois.

Entre os grupinhos de jovens que costumam ir até o local para beber e fumar maconha, a ideia do fechamento à noite também não caiu bem. O motivo: o fim da atmosfera "legalize" na praça. Já o motorista Moisés Justino, 41, que trabalha por perto, fica indeciso. "Tira a liberdade da pessoa poder vir aqui na hora que quiser. Mas por outro lado seria bom melhorar a estrutura."

Questionada, a prefeitura não informou quando a infraestrutura será instalada no local. O conselho gestor, que discutirá os detalhes do funcionamento, deve ser eleito nos próximos meses. A limpeza do local, diz o município, é realizada regularmente. E a segurança é feita pela GCM (Guarda Civil Metropolitana) e pela Polícia Militar no esquema de rondas.

Na manhã deste sábado, ao ler a reportagem da Folha, o prefeito usou uma rede social para tentar desqualificar a informação de sua própria assessoria.

Um dia antes, a gestão petista informou que um "projeto de cercamento do parque será desenvolvido pela SVMA [secretaria do Verde] a partir da manifestação dos próprios moradores, através de sua associação". No sábado, Haddad disse: "Entendo que o papel da prefeitura, nesse e em outros casos, é o da mediação, propondo alternativas que não comprometam a paisagem e o convívio e ao mesmo tempo garantam o bem-estar dos moradores do entorno. O cercamento não me parece o melhor caminho. Menos ainda sem o necessário debate entre os interessados". 

Matéria publicada na Folha de S. Paulo.
 

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