Roubos crescem e homicídios caem em SP no primeiro semestre do ano

THIAGO AMÂNCIO – FOLHA DE S. PAULO

O número de roubos no Estado de São Paulo aumentou 6% no primeiro semestre deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado. Enquanto isso, o número de vítimas de homicídio doloso caiu 12% no primeiro semestre em relação a 2015 e atingiu a menor quantidade desde o início da série histórica, em 2001.

A tendência é a mesma na capital do Estado. Os dados fazem parte das estatísticas criminais mensais divulgadas pela Secretaria da Segurança Pública de São Paulo nesta segunda-feira (25). No total, houve 160,7 mil casos de roubos no Estado de SP de janeiro a junho em 2016, contra 152,2 mil no primeiro semestre de 2015.

O secretário da Segurança de São Paulo, Mágino Alves, ressalta que os casos de roubo, apesar do aumento em relação ao ano passado, vêm caindo desde março em comparação com o mês anterior. "[O aumento] fez com que nossos policiais intensificassem suas ações visando coibir a prática desse crime", justificou.

Para o titular da pasta, o aumento é reflexo da situação ruim da economia. "O agravamento da crise econômica mostra uma elevação de crimes patrimoniais."

Para o especialista em segurança pública Guaracy Mingardi, a hipótese não se confirma no curto prazo em relação aos roubos. "Pode ter alguma influência, mas não explica. Um sujeito que tem 30 anos e está sem emprego, passou a vida trabalhando, não muda a atitude dele assim, não começa a roubar. Só se fosse em um prazo maior, de cinco a dez anos", afirma.

Ele diz que, se houver alguma influência, pode ser na quantidade de furtos (que aumentou 4% no Estado e 2,4% na capital), mas não de roubos.

Mingardi levanta duas hipóteses para o crescimento dos crimes. "Há mais armas circulando em São Paulo, e a arma que o sujeito guarda em casa mais dia menos dia acaba caindo na mão do bandido. Além disso, tem o exemplo do PCC [Primeiro Comando da Capital], que influencia a meninada, que diz que o crime compensa, sim".

O advogado criminal José Carlos Abissamra FIlho concorda com a avaliação de Mingardi. "Atribuo o aumento de roubos a uma política de segurança pública mal conduzida", afirma ele, que acredita ser um equívoco manter jovens primários em presídios.

"Jovens primários devem receber liberdade provisória de maneira rápida, porque você diminui o contato dele com a criminalidade mais velha e mais experiente. É um cuidado que eu vejo que não temos", afirma. "Vejo muita molecada indo presa nas atuações policiais. Tem um policiamento ostensivo na rua, mas que não é pensado. Deve-se investigar mais em vez de só prender", diz o especialista em segurança pública.

Os roubos apenas de cargas diminuíram 0,6% no primeiro semestre, mas, na comparação de junho de 2016 contra junho de 2015, houve um aumento de 34%.

Situação parecida ocorreu considerando apenas os roubos de veículos, que caíram 2,6% no primeiro semestre, mas cresceram 12% na comparação entre este e o último mês de junho.

"Vamos intensificar as ações visando os desmanches [de veículos], nós já estamos programando várias ações, e aí a gente tem certeza de que você vai ter um impacto negativo nesse número", afirmou o secretário.

Já os roubos a banco caíram 29% no primeiro semestre e 69% na comparação entre junho de 2016 e junho de 2015.

HOMICÍDIOS

Em relação aos homicídios dolosos, o número de vítimas chegou a 1.785 no primeiro semestre deste ano, redução de 12% na comparação com 2015, que registrou 251 mortes a mais. A queda no número de vítimas tem sido frequente e este é o menor índice desde o início da série histórica de 2001, chegando a uma taxa de 8,56 vítimas a cada 100 mil habitantes.

A queda é similar quando se verifica a quantidade de casos de homicídio doloso: 1.729 em 2016 e 1.934 em 2015, redução de 10,6%

Tem ganhado força a hipótese –rechaçada pela secretaria de Segurança– de que a existência do PCC é mais efetiva que a ação das polícias para a queda dos homicídios.

Mingardi questiona a ideia. Segundo ele, a hipótese pode fazer sentido a partir de 2005, "mas os homicídios caem desde 2001, quando o PCC não tinha força alguma".

"A faixa etária das pessoas que matam e morrem, dos 18 aos 35 anos, encolheu em São Paulo. Isso pode ter também uma influência. Mas nenhum desses fatores é decisivo para explicar a queda dos números", afirma.

CAPITAL

O número de vítimas de homicídio doloso em São Paulo caiu 21% no primeiro semestre deste ano em relação ao ano passado: 451 vítimas em 2016 contra 569 em 2015. A também foi a menor da série histórica: 8,07 pessoas mortas por 100 mil habitantes. O número de casos caiu 18%.

Já os roubos cresceram 1,8% de janeiro a junho em relação ao ano passado, atingindo 78 mil casos. Os roubos somente de veículos diminuíram 3% no primeiro semestre, mas aumentaram 14% no mês de junho. Similar ao roubo de cargas: 1,7% de queda nos primeiros seis meses, mas 40% de aumento em junho.

A grande queda aconteceu nos roubos a bancos: 53% de queda no primeiro semestre (22 casos contra 47), e 86% de redução na comparação entre junho de 2015 e de 2016.

ESTUPRO

Os casos de estupro também vêm crescendo: foram 4.736 casos no primeiro semestre deste ano no Estado –crescimento de 4,5%. Em comparação com os meses de junho de 2015 e 2016 a variação chega a 19%: 811 casos no último mês e 681 em junho do ano passado.

Na capital, o crescimento foi de 2% no primeiro semestre (que registrou 1.055 casos), e de 14% na comparação entre junho de 2015 e junho de 2016.

Segundo o secretário, em 81% dos casos registrados de estupro, as vítimas conhecem os autores do crime. "É um crime cometido no ambiente familiar ou entre pessoas que se relacionam. Ninguém consegue detectar".

O titular da pasta preferiu não dar hipóteses sobre o que causou o aumento. Em junho, ele chegou a culpar a crise econômica em entrevista ao jornal "O Estado de S.Paulo". "Muita gente cai em depressão porque perdeu emprego e começa a beber. E aí termina perdendo a cabeça e praticando esse tipo de delito. Não estou falando que é a principal causa, mas uma das causas com certeza é essa aí", disse, na ocasião.

Matéria publicada na Folha de S. Paulo.
 

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