FABRÍCIO LOBEL – FOLHA DE S. PAULO
Uma passarela com visão para os estandes de venda de frutas, uma nova estação de trem e um espaço para restaurantes. Essas são as primeiras propostas de um grupo de comerciantes paulistanos para o projeto de criação de uma nova Ceagesp em Perus, zona norte de São Paulo.
A ideia, ainda embrionária, é criar uma estrutura para receber produtores agrícolas e compradores, aos moldes da atual Ceagesp, na Vila Leopoldina, na zona oeste. A criação de um novo entreposto na cidade é apoiada pela gestão Fernando Haddad (PT), que quer revitalizar a região da Vila Leopoldina.
Para que o empreendimento dê certo, no entanto, o grupo de comerciantes que conduz o projeto terá que convencer outros permissionários a bancarem um investimento de R$ 5 bilhões necessário para a mudança, incluindo uma série de intervenções viárias, como quatro pontes e acessos à rodovia dos Bandeirantes.
Os comerciantes que se opõem à mudança alegam que o custo é muito alto e que não compensaria diante de investimentos já feitos na Vila Leopoldina. Outros pedem a autogestão da atual área.
Inicialmente rejeitada pela nova direção da Ceagesp, a ideia acabou recebendo aval de Blairo Maggi, ministro da Agricultura do governo Temer (PMDB). A prefeitura discute dar benefícios à União, responsável pela companhia, caso a mudança ocorra em até cinco anos.
A Ceagesp diz que pretende incluir todos os envolvidos na operação do entreposto da Vila Leopoldina no projeto. Segundo a administração, a criação de um novo empreendimento em Perus não invalida a permanência do atual, na zona oeste da cidade.
DESENHO
Os produtores favoráveis à mudança ainda não dispõem de um projeto executivo para o terreno que já foi adquirido em Perus, às margens da rodovia dos Bandeirantes. No entanto, contrataram do escritório de arquitetura Marcos & Farina um plano de viabilidade –ao qual a Folha teve acesso– que aponta para a construção de 2,2 milhões de m² de área útil, superior à do parque Ibirapuera.
O coração do novo empreendimento seria uma área de 630 mil m² voltada à negociação de frutas, vegetais e hortaliças. Cercada por uma via circular de 3,5 km de extensão, a área poderá comportar até um shopping, segundo seus idealizadores.
Também se estuda a construção de uma passarela para que os visitantes possam ter uma visão aérea dos estandes dos comerciantes. Ao lado da área principal está previsto o setor turístico. A intenção é receber restaurantes tais como os do Mercadão do centro de São Paulo.
Em outro ponto do terreno, a proposta é a construção de uma nova parada de trem na linha 7-rubi, da CPTM, entre as estações Perus e Caieiras. A nova estação teria como objetivo levar os 30 mil trabalhadores estimados no local.
Outra função seria a de servir como rota de escoamento ferroviário das mercadorias até o porto de Santos. Uma área anexa serviria ainda de grandes armazéns, para dar vazão às vendas no atacado.
No lado oposto à rodovia dos Bandeirantes, haverá espaço para abrigar produtores de cereais e peixes. Outras propostas são a criação de área com serviços para caminhoneiros e uma cooperativa, voltada para reaproveitar sobras de mercadorias negociadas no entreposto.
IDHM SP 0,786
População 80 mil
Área 24 km2
Densidade demográfica 3.355 hab/km2
Como é hoje A Ceagesp é administrada pelo governo federal, que é dono do terreno
O que parte dos comerciantes quer Uma gestão privada, em um terreno particular
Em que fase está Após pedido do grupo de comerciantes, a União estuda a mudança
Quanto vai custar As projeções são de R$ 4 bilhões, ao longo de 5 a 7 anos
REVITALIZAÇÃO DA VILA LEOPOLDINA
A Prefeitura de São Paulo anunciou nesta terça-feira (2) a intenção de um grupo de investidores de revitalizar uma área privada na Vila Leopoldina, entre o terreno da Ceagesp e o parque Villa-Lobos, na zona oeste da cidade.
A proposta é que uma parceria entre a Votorantim, a SDI Desenvolvimentos Imobiliários, a BV Empreendimentos e a Urbem (Instituto de Urbanismo e Estudos pela Metrópole) crie um "novo bairro" de uso múltiplo na área de cerca de 110 mil metros quadrados.
A área de interesse abriga hoje prédios industriais em processo de desativação. A própria Votorantim é dona de 30 mil metros quadrados do terreno. A prefeitura deverá nos próximos quatro meses analisar as propostas do grupo de investidores. Após esse período, o projeto será levado à consulta pública.
Os investidores poderão explorar diferente tipos de empreendimentos no local, desde que se comprometam a cumprir certas diretrizes urbanísticas da prefeitura, como a construção de moradia social. Segundo a legislação municipal, pelo menos 10% do terreno será voltado à moradia de famílias de baixa renda.
A ideia é que essas casas sejam destinadas a famílias que atualmente vivem na região, como a favela da Linha e a favela do Nove. Como contrapartida, os investidores conseguirão ter mais flexibilidade com as regras de uso de solo e tamanho de seus prédios construídos, por exemplo.
Matéria publicada na Folha de S. Paulo.