ARTUR RODRIGUES – FOLHA DE S. PAULO
Dois bancos estrangeiros transferiram para o Brasil nesta semana o equivalente R$ 81,5 milhões a título de indenização por ajudar a lavar dinheiro desviado pelo ex-prefeito Paulo Maluf (PP) de obras viárias na cidade de São Paulo —o que ele nega.
O anúncio foi feito nesta quarta-feira (3) em entrevista coletiva com membros do Ministério Público do Estado e o prefeito Fernando Haddad (PT).
O dinheiro será reservado para a compra do terreno do futuro Parque Augusta, na região central, e para a construção de cerca de 20 creches.
Os bancos Citibank e UBS se comprometeram a pagar, respectivamente, U$ 15 milhões e U$ 10 milhões —90% do valor será transferido aos cofres municipais.
No ano passado, o Deutsche Bank transferiu o equivalente a U$ 20 milhões. Com isso, total já pago em acordos já soma U$ 45 milhões (o equivalente a R$ 147 milhões).
Os recursos haviam sido desviados durante a construção do túnel Ayrton Senna e da avenida Água Espraiada (atual Roberto Marinho), ambos na zona sul de São Paulo, segundo o Ministério Público.
De acordo com o promotor Silvio Marques, do patrimônio público, já chegaram a ser bloqueados U$ 340 milhões de empresas ligada à Maluf usadas para lavar o dinheiro desviado. As ações de repatriamento ainda estão em andamento.
O promotor afirmou que a família de Maluf já foi condenada pela justiça da Ilha de Jersey a devolver U$ 33 milhões, dos quais U$ 10 milhões já foram repatriados. Restam ainda U$ 23 em ações bloqueadas da empresa Eucatex, da família de Maluf, que devem ser convertidos.
A assessoria de imprensa do ex-prefeito afirmou que ele não tem contas no exterior e diz que as acusações são um assunto "velho e requentado".
NEGOCIAÇÃO
O prefeito Haddad afirmou que ainda negocia com as construtoras Cyrela e Setin para a compra do terreno por R$ 40 milhões. "Estamos querendo evitar judicializados que podem se estender por anos", afirmou Haddad.
Caso sejam condenadas em ação movida pelo Ministério Público, ambas as construtoras podem perder a área e serem obrigadas a pagar até R$ 400 milhões por danos morais devido ao tempo que o terreno permaneceu fechado.
Segundo os promotores, as empresas também descumpriram determinação presente na matrícula do imóvel, de que a área verde do local precisaria ser preservada.
Matéria publicada na Folha de S. Paulo.