Restaurante mais antigo e prédios de Artacho Jurado integram lista feita pelo Conpresp
Edison Veiga – O Estado de S. Paulo
O Conpresp, órgão municipal de proteção ao patrimônio, reconheceu ontem a importância histórica de sete pontos de São Paulo. Em uma espécie de “tombamento light”, eles não serão salvaguardados pela Prefeitura, mas ganharão um selo oficial batizado de “Valor Cultural”.
A seção gastronômica da lista tem o restaurante Carlino – fundado em 1881 e considerado o mais antigo da cidade –, as padarias Santa Tereza – desde 1872 na Praça João Mendes –, Italianinha e 14 de Julho – respectivamente de 1896 e 1897. A Casa da Boia, mais antiga loja de ferragens da Rua Florêncio de Abreu, inaugurada em 1898, também foi lembrada. Completam o rol dois prédios assinados por João Artacho Jurado (1907-1983) em Higienópolis: os edifícios Parque das Acácias – chamado de Apracs – e o Parque das Hortênsias. Ambos são da década de 1950.
A ideia do selo de Valor Cultural foi oficializada em dezembro do ano passado. A expectativa do Conpresp é seguir condecorando locais de interesse cultural e histórico – uma nova lista deve ser apresentada dentro de seis meses. Os proprietários dos sete primeiros eleitos receberão, no próximo dia 23, um certificado e as diretrizes para a confecção de uma placa oficial. “Como a administração está em fim de gestão e sem dinheiro, não teremos como oferecer nós mesmos as placas”, afirma a arquiteta e urbanista Nadia Somekh, presidente do Conpresp e diretor do Departamento de Patrimônio Histórico (DPH).
“O selo tem uma função turística e uma função de disseminar a importância do patrimônio e compartilhar com a população”, comenta Nadia. Ao contrário do que acontece nos casos de tombamento, esse reconhecimento não “congela” os imóveis, ou seja, não obriga o proprietário a submeter ao Conpresp qualquer projeto de intervenção no espaço físico. “Não se trata de uma preservação de uma edificação relevante, mas sim uma valorização do fazer, do aspecto cultural daquele lugar”, completa a arquiteta.
O reconhecimento, conforme ela mesma frisa, “não garante nada” em termos de preservação. “Mas, de alguma forma, sinalizamos que é algo que não pode ser destruído. Precisamos de uma salvaguarda compartilhada com a população”, explica.
O selo tem validade de até cinco anos, podendo ser renovado pelo Conpresp e pelo DPH. Em nota, a Secretaria Municipal de Cultura destacou que esta nova ferramenta “auxilia na implantação da política de promoção e reconhecimento do patrimônio cultural de São Paulo”.
A iniciativa se espelha em projetos semelhantes de outras grandes cidades. Em Buenos Aires, por exemplo, desde 1998 restaurantes, bares e cafés tradicionais contam com reconhecimento oficial por sua relevância histórica.
Matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo.