Perfil dos que disputarão eleições na capital é diferente do da população
Comparação com dados dos postulantes de outras cidades também reflete a desigualdade do país, diz especialista
POR ARTUR RODRIGUES – FOLHA DE S. PAULO
Homem, branco, com ensino superior e empresário.
Esse é o perfil que predomina entre os candidatos às eleições municipais da cidade de São Paulo, diferente da população local e dos candidatos do resto do país.
Os dados são do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que contabiliza 1.297 candidatos na capital paulista, postulantes à Câmara Municipal e à prefeitura.
Desse total, 49,88% têm ensino superior –entre os eleitores da cidade, só 10,6% cursaram a universidade.
Em relação à cor, 66% são brancos, 20% pardos e 12% pretos. O percentual de brancos entre os candidatos paulistanos é pouco maior que o da população da cidade – segundo o Censo de 2010 do IBGE, 60,6% se declaram brancos.
No entanto, o contraste aumenta quando chega nos postulantes ao Executivo. Entre os 11 candidatos a prefeito, por exemplo, só um não é branco: Major Olímpio (SD), que se declarou pardo.
O perfil dos que disputarão as eleições na capital paulista também é bem diferente do dos quase 500 mil candidatos do resto do país. A profissão mais citada entre os paulistanos é empresário. Nas demais cidades do Brasil, quem predomina são agricultores.
No recorte nacional dos candidatos, o percentual de pessoas com ensino superior completo é menos da metade que o de São Paulo: 21%.
Os dados relacionados a todo o país são afetados pelo grande número de cidades pequenas, muitas vezes com menos acesso à educação superior. No entanto, mesmo capitais apresentam disparidade. Em Salvador (BA), por exemplo, somente 36,8% dos candidatos têm esse grau de instrução.
COR E GÊNERO
Já a cor dos candidatos varia bastante de acordo com características regionais. Na média do país, 52% são brancos, 39% pardos e 8% negros.
Capital com maior número de negros no Brasil, Salvador tem apenas 16% de candidatos que se dizem brancos. Já Porto Alegre (RS), que fica em um Estado colonizado por muitos alemães e italianos, tem menos de 20% de candidatos que se declararam como sendo das cores preta e parda.
O cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV, afirma que os dados em relação à cor e gênero refletem o processo de exclusão do país. "Você vai encontrar grupos que são numericamente grandes na população, mas que do ponto de vista político não têm o mesmo tamanho", diz.
É o caso dos negros e pardos e também das mulheres.
Apesar de as mulheres representarem 52% do eleitorado do país, elas são apenas 31% dos candidatos, padrão que se repete em São Paulo.
"Elas são 30% porque é a cota, que os os partidos respeitam, mas depois não dão estrutura para essas mulheres se elegerem, o que faz com que elas sejam cerca de 10% dos eleitos", afirma Teixeira.
Matéria publicada na Folha de S. Paulo.