Vizinhos de futuras estações da Linha 6 têm medo de conviver com tapumes e escombros
Bruno Ribeiro – O Estado de S.Paulo
Da expectativa de estar ao lado de uma estação de metrô, o paulistano foi agora para o incômodo de conviver com imóveis vazios, tapumes, escombros de obras e vias interditadas por prazo indefinido. As áreas onde ficariam as 15 paradas da Linha 6-Laranja, obra cuja paralisação foi confirmada pelo governo do Estado na segunda-feira, já estão sem seguranças – e colecionam vizinhos insatisfeitos.
“A gente conta com esse tipo de obra para melhorar nossa vida. É um absurdo simplesmente pararem. Demoro duas horas para chegar em casa. Se essa obra estivesse pronta, e também a Estação Vila Sônia da Linha 4, eu ganharia muito tempo”, afirma a recepcionista Rosana de Oliveira, de 40 anos, funcionária de um hospital localizado próximo do que seria a Estação Perdizes, na esquina da Rua Apinajés com a Avenida Sumaré, na zona oeste de São Paulo, e moradora de Taboão da Serra, na região metropolitana.
Quem mora na região também não gostou da notícia. O analista de sistemas José Joaquim Barreiros, de 58 anos, relata que, mesmo antes da divulgação da paralisação das obras da linha, já havia ocorrido casos de pessoas jogarem entulho nos imóveis desocupados para a obra – naquele trecho, não chegaram a ocorrer as demolições do terreno. “Jogaram sofá, armário, lixo. Depois, alguém limpou.”
Em outro ponto da cidade, na esquina da Avenida Pompeia com a Rua Venâncio Aires, a engenheira Silvia Loeser, de 55 anos, relata “tristeza” ao saber da paralisação do projeto e cita a importância da ampliação da malha metroviária. E cita os riscos de invasão dos espaços ao enumerar os impactos que espera para a região. “São Paulo é assim. Não pode haver um lugar vazio que é ocupado”, referindo-se às ocupações por dependentes químicos para consumo de drogas. “Muita gente vem de longe para cá.”
Os imóveis desapropriados nas duas estações estavam protegidos ontem só com tapumes. Não foi possível ver nenhum segurança no interior dos locais vazios – uma oficina, um consultório dentário e um banco em Perdizes; e, na Pompeia, um posto de gasolina.
Brasilândia
Além do temor dos mesmos problemas, lideranças comunitárias da Brasilândia, zona norte da cidade, que teria a ligação com o centro e com as demais linhas de metrô facilitadas pela obra, são os que mais reclamam. “A promessa da linha é tão antiga que muita gente nem acreditava que sairia. Agora, quando parecia que ia sair, acontece isso. Além de ter a preocupação em isolar o que está desapropriado, eles ( governo) têm de pensar que a gente continua desassistido”, diz o líder comunitário de Brasilândia Henrique Deloste.
Matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo.