Diferença das notas dos alunos em Língua Portuguesa na Prova Brasil é maior em 17 Estados em relação a 2009; em Matemática, há aumento em 10 Estados. Para especialistas, risco é de escola acirrar desigualdades, em vez de reduzi-las
Luiz Fernando Toledo – O Estado de S. Paulo
A desigualdade entre a nota dos alunos de escolas públicas pobres e ricas aumentou na maioria dos Estados do País. Embora o desempenho geral dos estudantes de escola pública esteja melhorando no quadro geral, a diferença de renda está pesando mais no resultado final. O quadro é mais acentuado em Estados do Norte.
A diferença no desempenho desses alunos em Língua Portuguesa é maior em 17 Estados do País em relação a 2009. Isso é o que mostraram os dados da Prova Brasil, a avaliação oficial feita pelo governo federal cujos resultados foram divulgados na quinta-feira. Em Matemática, a desigualdade aumentou em dez Estados.
A equidade na evolução dos resultados educacionais é vista por especialistas como um dos fatores mais importantes para avaliar a qualidade das redes educacionais. O risco é que a escola, em vez de servir como meio de equilibrar desigualdades já existentes na sociedade, possa acirrá-las. No ranking dos dez Estados mais desiguais em Língua Portuguesa em 2015, sete estão no Norte.
Especialistas apontam que diversos motivos podem explicar essa diferença no desempenho. Entre eles estão problemas de falta de infraestrutura das escolas nas regiões mais periféricas, carência de aulas de reforço e de professor assistente para os alunos com mais dificuldade, falta de estrutura familiar e até desestímulo à permanência dos melhores professores.
Os dados constam de um estudo elaborado pelo Instituto Ayrton Senna (IAS), a pedido do Estado. Para calcular o desempenho dos estudantes, foram utilizadas as notas dos anos iniciais do ensino fundamental (1.º a 5.º) de 2015, com dados de nível socioeconômico de 2013, pois os mais atuais ainda não foram divulgados pelo Ministério da Educação. O Estado do Amazonas aparece no topo do ranking da desigualdade em ambas as disciplinas. Em Matemática, a diferença de pontos é de 37,7, enquanto em Língua Portuguesa chega a 48,6.
Essa diferença pode representar mudanças significativas no conhecimento dos estudantes nessas disciplinas. Na escala de proficiência de Língua Portuguesa, a média dos alunos mais pobres indica que eles não conseguem, por exemplo, localizar informações explícitas em reportagens, propagandas ou reconhecer a relação de causa e consequência em poemas, contos e tirinhas. Já na parcela mais rica, os alunos já conseguem identificar assuntos comuns a duas reportagens e o efeito de humor em piadas, por exemplo. Em Matemática, a média dos alunos mais ricos já demonstra que eles são capazes, por exemplo, de converter uma hora em minutos e interpretar horas em relógios de ponteiros, diferentemente dos estudantes de instituições mais pobres.
O diretor de articulação e inovação do IAS, Mozart Neves Ramos, ressalta que essa diferença na oferta de ensino pode piorar a desigualdade já existente na sociedade. “Em vez de ajudar a compensar as possíveis diferenças de oportunidades que o nível socioeconômico acaba impondo aos estudantes, o sistema educacional acaba reforçando ainda mais essas distorções”, diz.
Para o economista e professor do Insper Sérgio Firpo, é importante que os gestores não se preocupem apenas com a média geral do Ideb, mas com as diferenças entre as escolas. “É possível aumentar a média sem fazer com que todo mundo melhore por igual e isso parece ser a principal lição que esses dados mostram”, diz. Para ele, é importante que os gestores identifiquem os exemplos de escolas bem sucedidas em suas redes, para localizar boas práticas, identifique se há diferença nos recursos destas unidades e também veja se os gestores estão reagindo às metas do Ideb.
Matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo.