RODRIGO RUSSO – FOLHA DE S. PAULO
Embora se locomover a pé pelas cidades seja uma prática corriqueira e antiga, ações organizadas por melhorias para os pedestres são algo muito recente no país: cerca de 80% das organizações que atuam em prol da mobilidade a pé no país foram criadas nos últimos três anos, a partir de 2013.
Essa é uma das principais conclusões da pesquisa Como Anda, conduzida pelas ONGs Cidade Ativa e Corrida Amiga, com apoio do Instituto Clima e Sociedade. O primeiro mapeamento dedicado ao assunto identificou 128 associações que promovem atividades ligadas aos pedestres em 18 Estados, além do Distrito Federal.
"Nós queremos conectar as organizações, esse é um movimento muito recente, muito jovem. Está na hora de a sociedade entender que a pé também é uma forma de transporte", observa Andrew Oliveira, integrante da Corrida Amiga.
Os protestos de junho de 2013, iniciados a partir de um aumento nas tarifas do transporte público, são uma das razões apontadas pelos pesquisadores para o salto no total de organizações dedicadas ao tema.
"Junho de 2013 alavancou muitos grupos coletivos para a discussão sobre mobilidade urbana. É, sem dúvida, uma das possíveis causas, mas também destacamos a criação da Política Nacional de Mobilidade Urbana, em 2012", afirma Raffaela Basile, da Cidade Ativa.
O Sudeste concentra o maior número de iniciativas ligadas à mobilidade a pé: 88, ou 69% do total. Em seguida vem o Sul, com 15 (12%), e o Nordeste, com 11 (9%). Centro-Oeste e Norte são as regiões com menor número de associações: 9 (7%) e 3 (2%), respectivamente.
Oito Estados não têm registros de iniciativas: Acre, Amapá, Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte, Roraima, Sergipe e Tocantins. A cidade de São Paulo, com 70 associações, lidera com folga o ranking de ações em prol dos pedestres. O Rio de Janeiro, em comparação, tem apenas cinco ações registradas nessa área.
Para Silvia Stuchi Cruz, da Corrida Amiga, esse é um resultado curioso. "Esperávamos encontrar mais organizações no Rio. Este dado foi uma surpresa para nós.Talvez se explique pelo fato de as condições das calçadas do Rio não serem tão ruins. A mobilidade a pé está muito ligada a esse problema."
Plataforma on-line, que pode ser acessada em comoanda.org.br, a Como Anda tem três desejos adicionais: "Queremos ser a biblioteca sobre mobilidade a pé, funcionar como vitrine das associações e construir pontes entre elas", afirma Cruz.
Um exemplo mencionado pelos pesquisadores é a troca de informações entre o Carona a Pé, que forma grupos para fazer o trajeto das casas de crianças até o colégio Equipe, em São Paulo, e o A Pezito, projeto similar em Porto Alegre.
O projeto Como Anda já colhe os primeiros frutos: no início de outubro, os resultados da pesquisa serão apresentados internacionalmente na Walk21 –a maior conferência do mundo sobre pedestres, em Hong Kong.
Matéria publicada na Folha de S. Paulo.