THIAGO AMÂNCIO – FOLHA DE S. PAULO
Entidades parceiras do governo de São Paulo prometem pressionar o prefeito eleito João Doria (PSDB) para convencê-lo a manter os atuais limites de velocidade nas marginais da capital a partir de sua posse, em janeiro. Essas associações trabalham junto com a gestão de Geraldo Alckmin (PSDB), principal cabo eleitoral de Doria, em programas de melhoria na segurança do trânsito.
A iniciativa delas ocorre no momento em que o prefeito eleito sinaliza um recuo em sua promessa de campanha. Doria falava em reverter totalmente as velocidades adotadas por Fernando Haddad (PT), que reduziu os limites de 90 km/h para 70 km/h nas vias expressas e de 70 km/h para 50 km/h nas vias locais. Agora, eleito, Doria sinaliza manter os limites de 50 km/h em pontos das vias locais onde há desaceleração.
Para Fábio Racy, secretário executivo do Cedatt (Conselho Estadual para Diminuição dos Acidentes de Trânsito e Transporte), vinculado à Secretaria de Governo da gestão Alckmin, aumentar velocidades é um "retrocesso". Com influência na gestão tucana, o Cedatt é composto por integrantes de secretarias de Estado, como Saúde e Transportes Metropolitanos, além de Detran e Promotoria.
Racy, que também é membro da Abramet (Associação Brasileira de Medicina no Tráfego), diz que a discussão está na pauta da próxima reunião do conselho, dia 19, e que ele deve fazer "o que preciso for" para tentar barrar o aumento dos limites, buscando vereadores eleitos e o governo do Estado.
Luiz Carlos Mantovani Néspoli, representante da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos) no Cedatt, ressalta que a redução de velocidades é tendência adotada em outros países.
"Com limites menores, todo mundo anda mais calmamente. Mesmo que não haja travessias para pedestres, o foco não é só o atropelamento. As colisões também causam danos no tráfego, que repercutem em todas grandes artérias da cidade", afirma.
Representantes da OAB e da Associação Brasileira de Pedestres nesse conselho também prometem pressão contra o aumento dos limites.
Dados do Movimento Paulista de Segurança no Trânsito, entidade criada por Alckmin há um ano, mostram que o número de vítimas de acidentes fatais caiu 17% na capital paulista de janeiro a agosto deste ano em relação ao mesmo período em 2015.
Oficialmente, por se tratar de um órgão técnico, o Movimento não se manifesta sobre o projeto do próximo prefeito. Membros do órgão com quem a Folha conversou, porém, dizem que a opinião majoritária do corpo técnico é a de que o aumento das velocidades será prejudicial à segurança no trânsito.
Nos últimos dias, Doria sinalizou que pode manter as velocidades no patamar atual em alguns trechos de desaceleração das pistas locais. Questionado sobre as críticas à mudança, disse que "um prefeito não deve ter medo, deve ter capacidade de compreensão e diálogo, sem compromisso com o erro".
Consultor de trânsito, o arquiteto Flamínio Fichmann defende a volta das velocidades ao patamar anterior. Ele diz que pode ser benéfico manter as velocidades baixas em alças de acesso, desde que haja sinalização para não confundir os condutores. "Deixamos de usar a sinalização de advertência, a pré-sinalização, que é muito importante para a comunicação com os motoristas", afirma.
O consultor Sergio Ejzenberg, mestre em transportes pela Poli-USP, sugere que os limites fiquem em 80 km/h nas vias expressas. "Quando se fala que a velocidade está sendo acalmada no mundo inteiro, é verdade, mas onde há conflito com pedestre", afirma ele, que compara a pista local das marginais com outras vias da cidade que possuem pedestres, curvas e semáforos e têm o mesmo limite, de 50 km/h.
Matéria publicada na Folha de S. Paulo.