Velocidade máxima implementada pela gestão Haddad seria restrita a pontos onde há grande número de acidentes ou travessia de pedestres; ao longo da campanha, prefeito eleito afirmou que aumentaria limites ‘na segunda semana de mandato’
Adriana Ferraz – O Estado de S. Paulo
Três dias depois de ser alvo do primeiro protesto de ciclistas contra o fim anunciado do programa de expansão das ciclovias, o prefeito eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), resolveu pedalar ontem e, pressionado por cicloativistas, admitiu que poderá manter a velocidade máxima a 50 km/h em alguns pontos da pista local das marginais.
“Onde existir comprovadamente um fluxo grande de pedestres poderemos reestudar, sim, o limite de velocidade”, disse o prefeito, diante da pressão dos ciclistas. Doria havia convidado cerca de 30 cicloativistas, incluindo o coordenador da Associação de Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade), Daniel Guth, o criador do site Vá de Bike, William Cruz, e a jornalista Renata Falzoni, para pedalar na Avenida Brigadeiro Faria Lima, zona oeste.
A frase de Doria foi dita depois de Falzoni questioná-lo sobre o aumento dos limites de velocidade. Ela afirmou que era errada a afirmação de que não havia pedestres cruzando as Marginais, uma vez que as pessoas que andam na calçada precisam atravessar as ruas de acesso às pistas expressas – e seriam esses pontos os locais mais perigosos. Ela deu como exemplo a Rua Hungria, nos Jardins, de difícil travessia para pedestres.
“Vamos analisar caso a caso e levar em conta o mapeamento dos acidentes. Aí se modifica (aumenta) a velocidade nessas áreas. Acho sensato”, afirmou o prefeito eleito. Dessa forma, a pista local teria pontos com limites a 60 km/h e outros com limite nos 50 km/h vigentes atualmente.
Até então, Doria afirmava que aumentaria os limites das duas Marginais, voltando à velocidades antigas, “na segunda semana de mandato”.
Dados do Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito do Estado de São Paulo (Infosiga), publicados pelo Estado há uma semana, mostram que o porcentual de queda nos acidentes de trânsito, entre janeiro e agosto deste ano comparado com o mesmo período de 2015, foi três vezes maior na capital do que no Estado como um todo – 16,7% na cidade e 5,5% no Estado. Para especialistas do setor, a velocidade reduzida é o principal motivo.
Ciclovias
O prefeito eleito foi ao encontro dos ciclistas acompanhado da vereadora eleita Soninha Francine (PPS) e do deputado federal Floriano Pesaro (PSDB). Durante o encontro com os cicloativistas (parte deles foi ao protesto na quinta em frente à casa do tucano), o prefeito eleito posou para fotos, recebeu livros de ciclistas e até colou um adesivo de apoio na fachada de seu comitê. “Eu chamei o pessoal para esta pedalada. Pode colocar aí em letras garrafais: eu apoio os ciclistas. Defendo as ciclovias.” Segundo Cruz, do Vá de Bike, o objetivo do encontro foi estreitar o diálogo. “Até agora ele só ouviu um dos lados, o dos comerciantes. Viemos mostrar o outro, dialogar. Acho possível ele mudar de ideia. Não totalmente porque ele já mostrou que tem suas convicções. Nosso intuito é esclarecer e protestar, se preciso.”
Doria também reafirmou que não investirá recursos públicos para ampliar a rede cicloviária. Disse que as empresas poderiam fazer isso – sem detalhar como. “Com a iniciativa privada, pode-se ampliar, sem nenhum problema. O investimento público já foi feito. A ideia é que agora a manutenção das ciclovias e sua expansão sejam feitas por empresas parceiras.”
A gestão Fernando Haddad (PT) sinalizou 317 km de ciclovias – antes havia 64,7 km. Entre janeiro e junho deste ano, 16 ciclistas morreram em acidentes e no mesmo período de 2015, 15. No primeiro semestre de 2014 foram 28 mortes, segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego.
Mudança de nome
A pedido dos cicloativistas com quem se encontrou ontem, o prefeito eleito João Doria (PSDB) disse que a Secretaria Municipal de Transportes deverá mudar de nome para Transportes e Mobilidade. O prefeito pretende voltar às periferias da cidade a partir dessa semana e aproveitou para alfinetar o prefeito Fernando Haddad (PT): “Não dá para fazer a administração da cidade no gabinete. Parte do meu dia será na rua. Não quero burocratas na Prefeitura”, declarou. / COLABOROU BRUNO RIBEIRO
Matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo.